tag:blogger.com,1999:blog-303026882024-03-07T02:11:05.659-03:00Sociedade Enlouquecidae o medo de cair nos faz querer mais, e mais, atados às lembranças e cenas de um dia em que sabíamos traduzir as mensagens do vento.Unknownnoreply@blogger.comBlogger158125tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-68634166661123300162015-08-22T15:18:00.000-03:002016-03-27T22:16:06.610-03:00delta Meu caro Pégaso,<br />
<br />
<br />
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Você se lembra da noite no quebra-mar? Talvez a única por lá, e para mim a mais importante. Lembro do meu medo de que a conversa caísse no lugar comum e de como me desfiz, pouco a pouco, da personagem que me envolvia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quantas palavras, Pégaso, dediquei à fantasia das nossas memórias, quantas vezes fui ao fundo de cada diálogo para recuperar cada lágrima, mágoa ou sorriso que me parecesse importante. Quantas vezes o mar, o céu, a praia e o barquinho foram minha resistência à porosidade dos nossos afetos, bons e ruins, gentis ou amargos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era inevitável que a sorte nos trouxesse até o momento em que estas memórias surgissem desarmadas, e que nosso reencontro após tantos anos fosse um previsível resto de alegria difusa, amarela, com a textura de uma liberdade simples, quase infantil. Não somos e nem éramos, (um diante do outro) como poderíamos ser?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apressamos a primavera com nossas escolhas, Pégaso, e mesmo que o destino nos envolva em uma futura charada, só posso acreditar que a minha maturidade trará conforto onde houver dúvida e afeto onde faltar o desejo. Não cabe a mim continuar o desenho de uma história que não terá prosseguimento e cujo fim, após um trajeto tão tortuoso, é um delta de águas claras que amansa diante do mar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Você tem visto o céu? De que cor ele é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E.</div>
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<br /></div>
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<br />
---<br />
Esta é a última postagem deste blog. </div>
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<br /></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-55701420743206240832015-06-04T13:29:00.001-03:002015-06-04T13:29:11.459-03:00oclusão<div style="text-align: justify;">
é este o ato final, Pégaso? a urgência das minhas palavras não busca por seu voo no horizonte, nem meus olhos se detém sobre o reflexo das nuvens nas janelas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
há muito deixei o labirinto, sem guias, sem direção. e na proteção daquilo que me revolvia as entranhas com dor e conforto, deixei de reconhecer a liberdade como algo verdadeiramente livre.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
tudo que construí a partir da dúvida, das brechas que me davam a visão do mar, foi uma verdade imperfeita: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
vejo a praia e não sei; imagino outra vez o barquinho, as ondas, e afogo estas lembranças dentro de algum lugar em que não podem ser encaradas; mas se a maré cobriu todos os caminhos anteriores, e se não há nada no céu que me sirva para além de uma vingança sem resultado que não seja a sangria das minhas feridas, o mar enfim se oferta como destino.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
além da bruma, além da bruma.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-20294545957666113432015-05-15T21:56:00.002-03:002015-05-15T21:58:20.718-03:00tábua de marés<div style="text-align: justify;">
É difícil ir embora, Stella. Não por você ou pelos outros, mas pelo arranjo de todos vocês à minha volta. Ninguém deseja que eu vá, embora todos saibam que eu devo ir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu azar talvez seja nunca ter conspirado com o destino como muitas pessoas fazem. Eu nunca o vi. O destino definitivamente não pode ser o momento seguinte ao anterior; o destino - como nas grandes histórias - é o entretempo das memórias, do presente e do porvir; é engraçado que eu consiga vê-lo entre as marés alheias, como uma linha d'água entre um aniversário e outro daqueles próximos e acho até que do mais distantes. Eu posso ser apenas um hipermétrope sentimental, incapaz de me dar conta dessa <i>coisa</i> que estou dizendo, mas para mim não há maré, Stella, nem previsão. E este leito seco me parece agora menor do que antes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nós nunca nos amamos. Houve compreensão, carinho, afeto. Houve ódio e vingança. Não é uma boa história a nossa, não é mesmo? E através do espelho eu posso ver que a culpa foi toda nossa. Imagino que você tenha se perdoado. Faça-o, gentilmente, caso ainda não tenha feito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há algumas luas venho entendendo meu lugar, meu papel nessa pequena, mas muito densa, constelação em que você, eu e os outros existimos. Mas este é o meu medo: de que as pessoas me venham - digo, que a natureza delas se faça enfim diante de mim - quando já não forem capazes de sustentar o momento, como a luz das estrelas que chega até nós tarde demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nem a água e nem a noite se apresentam, Stella. Eu preciso ir atrás delas, sozinho.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-77627969700904348582015-02-01T02:08:00.000-02:002015-02-01T02:08:17.007-02:00trânsito<div style="text-align: justify;">
Observei a noite diversas vezes, creio que nela - nas horas que a compõem - há algo para ser encontrado; mais que um segredo, um conhecimento fornecido apenas àqueles que se dedicam a refletir sobre as ações humanas com o devido cuidado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu encontrei a noite em momentos muito difíceis, Agatha. E como uma coruja ferida ela se afastou acanhada todas as vezes em que eu estava prestes a compreender os mistérios que revolvia marés em mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Embora muitos conheçam este sentimento, não conheço ninguém - exceto você e eu - que saiba admirá-lo. Me pergunto, Agatha, até aonde vai o sofrimento daqueles que observam... não. Há o inverso do solipsismo, Agatha? Há no mundo aqueles que, fadados a encarar o real como experiência completa - em todos os segundos inteiros -, percebem-se como uma ilusão? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu disse a você coisas que não deveria ter dito, e não me perdoei. Não busco o perdão de qualquer maneira. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
todavia</div>
<div style="text-align: justify;">
os incêndios</div>
<div style="text-align: justify;">
a chuva</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
o temor que seu rosto se esgote sem que ninguém repare que nenhum dos seus anos foi roubado; que ele permaneça implacável como todas as coisas delicadas de uma casa, que mesmo ausente dos retratos, mesmo há muito refletido nos espelhos, separado do teu nome nas memórias alheias, que sim, que siga inevitavelmente entre os tempos depositados - múltiplo - e de recorte em recorte, de resgate em resgate, durante uma noite que pretende fugir sem demora, ou no movimento dos meus pés sobre as escadas, no sumo de cada laranja pela manhã</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
você</div>
<div style="text-align: justify;">
e nenhuma liberdade.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-12260555709177429002014-10-07T01:31:00.001-03:002014-10-07T01:31:16.425-03:00outro céu<div style="text-align: justify;">
Olavo,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A última palavra: o silêncio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E de uma forma desesperada vi as nuvens tornarem-se negras. As memórias, os desejos, tudo veio abaixo. Compreendi que o mundo exigia um sacrifício; e diante do novilho, branco sentimento, fraquejei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas sua mão cobriu a minha sobre a pena. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A última palavra, Olavo, permaneceu comigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-69014254964416894012014-08-15T21:07:00.001-03:002014-08-15T21:08:19.042-03:00vigília branca<br />
<div style="text-align: justify;">
Meu caro Pégaso,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sob o céu branco do nosso reino, vejo, etéreo, o teu ninho; de paredes em guarda, ansiosas por qualquer momento ou gotejo de bica. Sentinelas da tua vontade - imperativa mesmo na tua ausência - permanecessem mudas em minha imaginação.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ah, Pégaso, não fossem os anos, eu ainda seria tola; não percebes que sagrei-me monja em teu monastério? e como copista das tuas palavras ébrias, admirei o horizonte a cada voo, fiz dele um amigo, uma esperança - jamais promessa - mas hoje</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
hoje esbarrei em uma das tuas penas brancas e ela me escapou suave entre os dedos, deslizou sobre a fruteira vazia e pousou sobre o chão como um inseto emplumado.<br />
<br />
Encarei-a, minutos a fio, e não entendi o que se passava.<br />
<br />
Lá fora tudo estava pálido; eu corei vermelha, quente. E entre o sentimento de roubo ou acidente, impûs um silêncio: não seria minha, tampouco tua, já que como todas as outras - e a ti mesmo -, também não a abandonaste?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-68697968168086759192014-07-20T14:21:00.001-03:002014-07-20T14:21:45.730-03:00sábadotodos os dias imagino<br />
se me imaginas cruel<br />
a sorrir liberto, mirando o céu<br />
<br />
todos os dias imagino<br />
que segues construindo<br />
uma vitrine de cristal<br />
um lar manso feito de sal<br />
<br />
[quando]<br />
todos os dias me imagino<br />
livre, caminhando contigo<br />
voltando ao sonho, ao crime<br />
<br />
todos os dias observo<br />
centenas de pássaros em voo<br />
e permaneço no chão<br />
trôpego, atado pela razão<br />
<br />
todos os dias este silêncio:<br />
o piano, a boca, o peito<br />
<br />
todos os dias<br />
este sábado inacabado<br />
<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-78575140367495315532014-05-22T22:32:00.003-03:002014-05-22T22:32:54.342-03:00Rosário II<br />
<div style="text-align: justify;">
Rosário, </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
difícil dizer o que me corrói; cerquei-me feito um louco de paredes confortáveis, e neste cubículo onde escondo minhas dúvidas disse hoje ao teto sobre as suas que também eram as minhas; e ainda estando tão lúcido, tão consciente - como se uma estrela brilhasse difusa em minha testa - há este último véu retirado que não me revelou nenhuma resposta sobre os sentimentos preciosos, encontrei no lugar ferramentas dispostas lado a lado: um binóculo e um espelho: Rosário, alguém em mim me diz que as pistas estão no futuro e no passado, e que à frente de mim e antes de mim permanece um eu de sobreaviso;</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
haverá futuro, Rosário, neste mar de observações feitas, nestas intensas descrições mentais dos afetos alheios, nesta prática diária de contemplação daquilo que chamo de amor? por vezes plástico, por vezes orgânico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
de um jeito ou de outro, não encontrei motivos hoje para o binóculo ou para o espelho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
D.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-41529887551061556382014-03-12T01:09:00.000-03:002014-04-11T22:35:39.790-03:00cirandadançam no teto<br />
todos os teus anjos<br />
descem invisíveis<br />
esticam os dedos, frios<br />
ao calor das gargantas<br />
<br />
amam, agigantando-se sobre os teus sonhos<br />
e te sopram no rosto a mesma máscara que usam <br />
e que não vês<br />
tu és aquilo que jamais serão<br />
<br />
do alto do teu altar perfumado <br />
afiam o silêncio à minha presença<br />
abrindo com ele a tua boca<br />
e pondo aí uma aranha<br />
<br />
segues mimético<br />
preso ao realejo do sagrado<br />
um pássaro indecifrávelUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-18403480322522220812014-02-17T00:13:00.001-03:002014-02-17T00:18:33.252-03:00porcelana<div style="text-align: justify;">
Eu não havia reparado o olhar ansioso de Silvia quando ela entrou no quarto provocando pânico numa pequena lagartixa. Metade de sua blusa estava úmida - ela havia lavado a louça - e a partir deste fato eu compreendi que seus poucos minutos de trabalho na cozinha criaram expectativas sobre a nossa iminente conversa aquecida pelas sombras quentes do abajur.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- me conte - e ela deitou sobre a cama, tirando o sutiã sob a blusa, como uma adolescente - como ele é?</div>
<div style="text-align: justify;">
Não era possível iniciar uma descrição simples, eu sabia perfeitamente disso, e enquanto ganhava tempo ligando o ventilador - o ruído baixo me ajudava a pensar - a imagem de um vaso de porcelana ricamente desenhado me veio à cabeça: belo, íntegro: único. - absurdamente frágil.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ele não tem personalidade própria - resumi. e internamente eu ainda visualizava Caio como o vaso de porcelana, fazendo sentido unicamente em um mundo de experiências e convívios muito particular, o qual eu não me via compartilhando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Ainda que eu tenha condensado os detalhes, e começado de maneira determinista, Silvia alongou os dedos dos pés e, olhando fixamente para os lençóis, foi direta, o que significava que tinha entendido o cenário:</div>
<div style="text-align: justify;">
- bom, você é melhor do que isso, digo, por que está com ele? Há algo de errado com sua autoestima? - e riu. </div>
<div style="text-align: justify;">
- talvez - eu sorri. Silvia era uma das poucas amigas com quem eu não precisava me armar de argumentos ou atalhos nos diálogos, não havia culpa ou remorso, jogávamos quase sempre com a verdade. Isso ficou claro quando eu tentei uma desculpa esfarrapada.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
- você sabe, eu ainda... não sei se sou capaz de sentir as coisas como antes</div>
<div style="text-align: justify;">
- que besteira - ajeitando a franja com um suspiro - não acredito nessa de ficar sofrendo ou remoendo o passado. acabou, não acabou?</div>
<div style="text-align: justify;">
- acabou. - e o teto do quarto parecia aqui um pouco mais distante.</div>
<div style="text-align: justify;">
- a vida é uma só, não dá pra perder tempo com isso. mas, você sabe, é no conforto que a gente se sabota, não há nada de errado em conquistar temporadas suaves, aliás é pra isso que estamos aqui, não é mesmo?, só não dá pra dar uma de Buda e ficar embaixo da sombra esquecendo que o negócio é evoluir, seguir em frente. - mais do que nunca, ela me pareceu alguém no final da adolescência e não uma mulher com mais de trinta anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu fui dormir pensando em "temporadas suaves"; em mim ainda criança fazendo uma daquelas experiências bobas com uma semente de feijão, uma caixa de sapato, algodão e um pouco d'água. Eu fazia furos na caixa que pudessem ser fechados outra vez e, quando notava que a muda estava quase conseguindo sair por um deles atrás de um pouco mais de sol, eu fechava o furo. E assim sucessivamente, até que o broto definhasse.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Silvia dormira rapidamente enquanto eu sentia que iria acordar mais uma vez resmungando que a luz da manhã não era bem aproveitada naquele quarto tão bonito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-46413723817686117492014-01-23T14:49:00.000-02:002014-01-23T14:49:43.379-02:00ExpectativaExpectativa, nefasta montanha<br />
dura matriarca a se impor no horizonte<br />
<br />
Expectativa, vigília infrutífera<br />
hora aberta, hora nenhuma<br />
boca vazia diante da lâmpada que não ilumina<br />
<br />
Expectativa, selvagem sentimento<br />
sábia dúvida que a tudo preenche<br />
enfeita as vontades, libera os desejos<br />
e diminui a verdade<br />
<br />
Expectativa, insólita covardia<br />
que antes de tudo é também coragem<br />
um estouro faz a corrida<br />
<br />
Expectativa, aurora branca<br />
lembrança e esperança<br />
nem começo, nem fim<br />
<br />
Expectativa, um espelho sobre si<br />
o avesso do céuUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-46987927925559865402013-12-12T00:47:00.000-02:002013-12-12T00:47:19.875-02:00Adão<div style="text-align: justify;">
Eu o vi na sacada, castanho-mistério. Jovem, ar distraído, cem pensamentos por minuto. Quis resgatá-lo de seu próprio futuro. Tentei encarná-lo por alguns momentos, vendo a mim mesmo distraído numa janela escura. E, em dúvida sobre quais seriam os meus novos desejos, tentei nada, mas sê-lo. A janela fechou, me deixando apenas a visão das costelas formadas pela luz através das persianas. Permaneci. Quis compreender sua liberdade e reverenciá-lo pela fantasia que eu vivenciava, como se daquela varanda ele soubesse que a presença de alguém tinha sido necessária para encenar a noite, simbolizá-la, significá-la. E mesmo após ter ido me deitar, busquei aquela memória através do vidro e qualquer sentido nas coisas que me vieram à cabeça só bem depois: ele ali intenso, feito e exposto, ainda assim completamente irrevelado e distante, podendo ser o que eu quisesse; argila.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-32661742040557269972013-10-11T01:00:00.001-03:002013-10-11T01:03:32.799-03:00O MeninoEscuridão<br />
que apagaram as luzes<br />
onde não brilha o Farol<br />
cego e seco sobre o mar<br />
<br />
Escuridão<br />
que o Destino cobriu<br />
do caminho fez atalho<br />
do sentimento, mortalha<br />
<br />
Quem conduz o menino?<br />
e entrega a pena livre<br />
sem prometer liberdade<br />
segue o menino sem livro<br />
<br />
Quem conduz o menino?<br />
dourada estrela<br />
ou grande anel<br />
vê no menino o infinito<br />
<br />
Evapora a noite numa canção<br />
fecha-se o segredo com giz<br />
abre o palco em azul<br />
abraços com cicatriz<br />
<div>
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-12127929467867018752013-09-07T03:48:00.001-03:002013-10-11T01:03:32.795-03:00dois planetassagrado universo construído<br />
em teu desenho uma órbita de sal<br />
teu senhor, vazio de orgulho<br />
carrega uma máscara de vidro<br />
<br />
e sob a dúvida de um eclipse<br />
teu Arquiteto não vê o cão que morde o vigia<br />
nem a mão que segura a guia<br />
o que é verdade? o que é fetiche?<br />
<br />
mas toda penumbra revela uma Vênus<br />
todo ocaso, uma esperança<br />
uma única estrela: uma única dança<br />
<br />
mas se fazes deste círculo um espelho<br />
e no céu encarna um Marte vermelho<br />
ensinas a dois planetas, silêncio e segredo<br />
despertas o ego, mata o desejo<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-19009867249714934892013-09-02T03:09:00.000-03:002013-10-11T01:03:32.797-03:00(sem título)<div style="text-align: justify;">
Adiante um caminho torto,<br />
que de forma torta leva ao centro;<br />
círculo perfeito, circumponto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
este imenso e engraçado desenho é dica para certos destinos,<br />
cuja saída alcança-se pela paz de espírito<br />
e por um coração-montanha que repouse em vivo silêncio (sobre todas as grandes salas da alma.)</div>
<div style="text-align: justify;">
e se não permites ter os olhos lavados, </div>
<div style="text-align: justify;">
se dos estribos faz um cilício, perca-se;<br />
<br />
ainda que o tempo deixe fosca a janela,<br />
amareladas a culpa e a regra, desprenda-se.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-72209262129315907252013-07-23T02:07:00.001-03:002013-07-23T02:09:41.968-03:00RosárioRosário,<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Foram suas mãos e seus cuidados que fizeram do jardim o pequeno palco de vida e expectativa onde pequenos pássaros e insetos fazem corte à natureza. Sua presença está em cada broto, flor e alegria desta visão que me acompanha todos os dias. É possível que eu encare o jardim como um lar, enfim. Lar: um conceito delicado e transparente. Lembro perfeitamente das nossas discussões homéricas de apenas dois minutos sobre como as coisas são difíceis de serem ditas com as palavras que acabamos usando, nós nunca chegamos à conclusão se os alemães levavam a melhor nisso por terem a definição perfeitamente construída para cada bizarra sensação que alguém é capaz de sentir - nós nunca soubemos nem mesmo isso, afinal. Mil dias, Rosário. Foi o que durou. Se há alguém ou algo capaz de controlar o destino das coisas como se fossem fios a correr emaranhados, é certo dizer então que a razão suaviza muito das nossas perdas acidentais e - para nós - inexplicáveis. Mas nosso caso não foi um acidente, não foi?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acho errado algumas pessoas afirmarem que o que foi nosso permaneceu inacabado: eu não sei bem posicionar o início de tudo, venho esquecendo - inclusive - todo aquele meu longo discurso decoradinho, a história, o romance; os fatos ficaram maiores do que a própria história. Meu ponto é: tenho me perguntado o que fazer com isso: o jardim e você. Todos me dizem que é a minha velha preocupação com a forma das coisas, a matemática caótica que eu uso para compreender o mundo. Estão todos errados, você sabe. (ou saberia); não há lógica nesta vidraça imensa que está diante das minhas memórias. Não é como deixar um peixe morrer no aquário e simplesmente ir até a loja e substituí-lo por outro igual no mesmo aquário: nunca será o mesmo peixe - qualquer um poderia afirmar - mas o crucial, o mais difícil e que demora a escoar pelo ralo é: nunca mais será o mesmo aquário.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não há qualquer dramatismo lá fora, Rosário. O jardim está vivo, robusto, intenso: repleto. Mas muda a si mesmo a cada dia, e sua sombra, seus arames para fixar orquídeas aqui e ali, escondem-se por trás do tempo das cascas das árvores, das folhas defuntas, das gerações milenares de formigas.</div>
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<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Talvez haja uma polemologia do afeto que demonstre como mesmo aquilo que é único - uma paixão, uma estrela no céu - é inevitavelmente menor, por definição, que a nossa própria existência. É a medida que nos constrói: duros ou flexíveis; rotos ou resistentes. Sugiro aqui, portanto, que o egoísmo e a vaidade são escolhas, e o pecado não está em escolhê-las, mas em permanecer consciente e cego diante das consequências.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Me desculpe, eu não deveria ter ido tão longe. Um dia espero ter a chance de lhe explicar como tudo isso é importante para mim.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
D.</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-4385819586355457222013-01-22T02:19:00.001-02:002013-01-22T02:19:27.661-02:00procurado<div style="text-align: justify;">
jovem afeto, onde posso encontrá-lo? em que visão - bosque, praia, castelo - encaixa-te com perfeição, para que eu também fique contente de saber da sua existência? pois o que eu tenho agora em mim é essa sensação que tu me escondes um segredo, que perdestes um fato de cristal em algum buraco para que eu o encontrasse, e assim os teus domínios, teus vales, tua areia e escuros calabouços aumentassem; a cada busca ou cenário, sou obrigado a dar-lhe mais da minha própria ficção, percorrendo trilhas na ponta dos pés sobre as migalhas e contando os dias abrindo e fechando grandes portões com chaves tão pequeninas; jovem afeto, de que forma irás me assombrar agora? qual é a tua nova fantasia? e de que cor estará o céu no dia do nosso reencontro?</div>
<br />
não me confunda os sentidos outra vez com teus sopros e silênciosUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-3658580769110765782013-01-07T01:57:00.000-02:002013-10-11T01:07:13.718-03:00puro<div style="text-align: justify;">
hoje durmo ao teu lado com os pés sujos de terra, e me descubro inteiramente sujo, com os lábios secos; e assim invado suas cobertas azuis, deito sobre as tuas estrelas, onde repouso minha memória - corcel branco de fita laranja - sossegada; mas teu desejo é insípido, tua língua só conhece fresca mentira, e teu tato, tuas mãos, pele e curva mortal; nada compreendes do prazer, nada conheces do afeto entre os espíritos e nunca abandonastes tua satisfação infantil; e não percebe que és aquilo que condena, disfarçado pelo Tempo</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
enquanto sonho com borboletas no quintal.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-38647564899996703362012-12-27T00:23:00.001-02:002012-12-27T18:01:44.204-02:00cocar<div style="text-align: justify;">
seria possível fugir de tantas vozes nas paredes em tom pastel do metrô? e deixar-se guiar de olhos vendados de ideias, dispersos, esbarrar em um brinco no chão, esquecê-lo e lembrá-lo horas mais tarde - não peguei o brinco, quem pegou o brinco? - e do brinco passar aos anéis e lembrá-los nos dedos e em cada dedo uma mão que tocou-lhe diferente; quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olívia, o carnaval exige mais do que o calor e o grito alto do seu nome em meio à multidão, o encontro dos outros e das coisas no chão; Olívia veste seu avatar de índia, morena assustada, não busca ninguém, observa e atravessa sem sentir que sorri ao vê-lo; quem?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
e este zumbido do mar, do tambor, dos chinelos arrastando fantasias, homens e mulheres, cães brancos, alguém berra e alguém repete, comemoram o desencontro e os reencontros; Olívia segue, finge que procura algo na bolsa, quer ter mais tempo para si, quer encontrar na bolsa o caminho por onde continuar seu raciocínio, tenta evitá-lo - o rapaz que segue ao seu lado - mas não pode, ele rouba seu cocar, dança; alguém grita: Olívia!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Olívia abriga-se na índia, mas sem o cocar está exposta, fragmentada e o <i>vê claramente</i> - o rapaz à sua frente- antes de; quem?</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-54523842588385557072012-12-22T20:21:00.001-02:002012-12-22T20:21:54.688-02:00ponderanega-me o prazer<br />
fera indomável<br />
<br />
nega-me a verdade<br />
esfinge inabalável<br />
<br />
nega-me a delícia<br />
de ser eu<br />
de morrer outro<br />
<br />
pondera, sátiro<br />
sobre tua pressa<br />
falsa promessa<br />
<br />
pondera<br />
que é ninfa tua vontade<br />
mas de cinza é feita<br />
tua brevidade<br />
<br />
e engoles os frutos<br />
sem conhecer o sabor<br />
também os putos<br />
sem cuidado e pudor<br />
<br />
<br />
pondera, carinho<br />
amarga a manhã<br />
em tua boca<br />
<br />
guarda o beijo<br />
atrás dos dentes<br />
sob o travesseiro<br />
<br />
junto ao outro<br />
moço reluzente<br />
a sorrir, sozinho<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-38052976969163980872012-12-22T17:33:00.004-02:002012-12-22T19:48:48.626-02:00olhos roubadosroubaram-lhe o cheiro<br />
o suor, a coragem<br />
roubaram-lhe os olhos<br />
não me encaras<br />
<br />
roubaram-me o lugar<br />
o reflexo no espelho<br />
<br />
e sonhei teu sonho<br />
teu rosto<br />
lotado de palavras caras<br />
<br />
para que não encontrasse<br />
na manhã<br />
certeza dourada<br />
ou silêncio<br />
<br />
e bebi da tua água<br />
e cuidei da tua louça<br />
importada, rachada<br />
<br />
à quem revelas sorrisos?<br />
sinceridades, suspiros<br />
<br />
à quem oferece os nós<br />
dos teus sentimentos<br />
e afinas - a sós - o violão?<br />
<br />
amemos, eu não<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-11493305590457990272012-11-28T02:52:00.001-02:002012-11-28T03:14:06.606-02:00Césarlevado pela destruição; destituído<br />
desencontrado, jamais perdido<br />
<br />
devora a serpente, infeliz<br />
saliva a mágoa em minha boca<br />
em nosso encontro feito de giz<br />
<br />
dentro da sua armadura,<br />
(te orgulhas?)<br />
desonesto, finges o afeto<br />
<br />
devora a serpente<br />
engole o veneno<br />
despeja as memórias<br />
esqueces de ti, valente<br />
<br />
a verdade é noiva do destino<br />
e sua boca fará da violência<br />
um diamante, um vestido<br />
<br />
(...)<br />
<br />
vá!<br />
faz do meu rosto<br />
conhecido por ninguém<br />
caças um corço<br />
ganha teu vintém<br />
<br />
mas vá!<br />
que teu pecado é segredo<br />
e somente a aurora saberá<br />
da ferida, do meu desejo.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-69713826977950373972012-11-11T20:20:00.002-02:002012-11-11T20:20:03.975-02:00breve sonho num campo de flores<br />
<div style="text-align: justify;">
sonhou com um deserto que era feito apenas de flores; o nada no sonho era uma coisa só e a ausência uma presença absoluta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
perdida, procurou-se em meio as flores; os pés, os braços, estava ali, cercada de um cenário que nada lhe dizia; solta, livre. perdeu-se mais ainda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
e por horas viu-se muito, muito desencontrada com aqueles caules verdes e o tom rosa claro em contraste com o céu muito azul; estaria doida? não lembrava de ter - quando acordada - tomado nada que não fosse a água meio quente da garrafa; e encontrando a garrafa de água meio quente dentro deste sonho, encontrou também um escorpião vivo sobre a tampa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
lhe faria mal o escorpião? e o que ele fazia sobre a tampa da garrafa de água meio quente e não no chão ou nas flores? ocorreu-lhe que o escorpião não é um inseto e subitamente sentiu-se jovem e violenta.<br />
<br />
tomou para si a garrafa, e viu o escorpião correr sobre seu braço e encará-la de cauda erguida e pinças abertas;<br />
<br />
não foi a dor do ferrão sobre a pele ou a água a escorrer pelo seu rosto que a despertou daquele local tão estranho, mas a nítida sensação de que alguém a observava muito além. um outro lacrau, talvez.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-77115566289396270882012-10-04T02:37:00.002-03:002012-10-04T02:37:46.659-03:00andrômeda<br />
<div style="text-align: justify;">
<i>happiness </i>soava a língua ao enxergar a palavra e um fio seguia veloz entre os murmúrios baixos das suas ideias; Ângela ergueu a cabeça para o teto, admirando o ventilador - estático - e entregou-se à uma roda temática interna sobre a sua felicidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
a felicidade, um mar aberto, um sentimento trocado, uma noite quente; pequenos objetos, uma lembrança fosca, editada pelo conforto ou pela mágoa; esse imenso conjunto de gavetas semiabertas que deixava brilhar aqui e ali, tesouros que guardara ao longo da vida; assim contava o tempo, não em anos, mas através de uma constelação de detalhes esfumaçados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
sorriu quando teve a suspeita de estar ao centro de si.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-30302688.post-82701110139165579632012-09-22T00:35:00.000-03:002012-09-22T00:37:21.478-03:00à francesa<div style="text-align: justify;">
achava muito apropriado que a tromba d'água viesse num momento como aquele, estava até mesmo satisfeita pois o acaso da natureza casava perfeitamente com seus fetiches de meio de tarde; mas estava correta, reta, o queixo pronunciado, limitada em sua função, presa numa crisálida de rotinas e horários: hoje teria meia hora, amanhã e depois - por Deus, até mesmo depois de depois de amanhã! - centraria os esforços em manter o "não há nada de errado" em seu próprio ninho; mas que maldade me fazer esperar tanto tempo, pensou, agitada, frenética, não era mulher de respirar pela boca por homem nenhum, muito menos por <i>garoto</i>;</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ele veio, meio torto em suas pernas suadas e tênis coloridos, sem anseio; cheguei, e desviou os olhos pro lado feito um cachorro, procurou as palavras, mas ela tinha pressa, ela tinha necessidades e horários; já estava só de relógio, escrava das próprias enrascadas - desde sempre, desde pequena e burra a esquecer as bonecas por aí, e lembrá-las sem mágoa, perda reparável - comeu-o por inteiro, esparramou-o pela mesa, faminta de si em perigo, mas completamente ausente de conservadorismos que - é verdade - às vezes tinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
cúmplice, a chuva virou enxurrada, ensurdeceu as paredes, transbordou os minutos e cantou os trovões junto aos sussurros daquela coisa toda que acontecia; e quando veio o silêncio, ventou uma brisa muito fresca, talvez a mais fresca daquele dia, gelando no corpo o suor que já secava dentro das meias e do vestido; nos falamos depois, sim, um beijo e estavam outra vez esticados pela corda longa da rotina.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0