26 de novembro de 2008

Outra chance

Mesmo perdida entre os fatos, e se sentindo absolutamente sozinha, encontrou a coragem em meio as próprias palavras. Buscou por essas palavras, não foi um acaso, uma coincidência de limpeza doméstica. Estava em busca de si mesma.
Mas tentou encontrar-se diversas vezes, ter um descanso de consciência enquanto a vida pulsava do lado de fora da porta; além das janelas, e lá no horizonte.

Agora estava concentrada na caixa aberta em seu colo, no cheiro das memórias, no medo e êxtase que sentia. Dali brotaram quinze diários, pequenos cadernos de anotações, álbuns de fotografia, duas bonecas; e enquanto cada coisa vinha novamente à luz após tantos anos ou meses esquecidos, a mulher, completamente formada e madura, deixou que as rugas fosse preenchidas de lágrimas.

E o pulso espalhou a dor, a saudade, um vasto arrependimento por tanta coisa não feita, afinal o que havia sido feito não era motivo de arrependimento, mas e o que deixara de lado só pelo medo? E os sonhos que teve que pagar com outros sonhos? - Quando começou a realizar as coisas e deixou de apenas sonhá-las? Não se lembrava.

Sabia que remoer as entranhas lhe traria todo um desgosto pela vida, mas já tinha segurança o suficiente para enfrentar esses monstros criados dentro de si.

Justamente quando seus pensamentos começavam a ganhar profundidade foi interrompida pela campainha do telefone. Até se levantar, vir à superfície das idéias e atender ao telefonema, a pessoa do outro lado da linha pensou em desistir, mas de algum modo precisava falar com ela, mesmo após tanto tempo, naquele momento havia sentido a vontade de mudar o destino.

Dos dois vieram os risos da coincidência. E lá fora ainda era dia, mesmo que fosse em algum outro lugar muito distante.