12 de dezembro de 2013

Adão

Eu o vi na sacada, castanho-mistério. Jovem, ar distraído, cem pensamentos por minuto. Quis resgatá-lo de seu próprio futuro. Tentei encarná-lo por alguns momentos, vendo a mim mesmo distraído numa janela escura. E, em dúvida sobre quais seriam os meus novos desejos, tentei nada, mas sê-lo. A janela fechou, me deixando apenas a visão das costelas formadas pela luz através das persianas. Permaneci. Quis compreender sua liberdade e reverenciá-lo pela fantasia que eu vivenciava, como se daquela varanda ele soubesse que a presença de alguém tinha sido necessária para encenar a noite, simbolizá-la, significá-la. E mesmo após ter ido me deitar, busquei aquela memória através do vidro e qualquer sentido nas coisas que me vieram à cabeça só bem depois: ele ali intenso, feito e exposto, ainda assim completamente irrevelado e distante, podendo ser o que eu quisesse; argila.