22 de agosto de 2012

Redenção

meus olhos castanhos abriram-se para o céu, cegos pela vida do Sol eterno, da luz perpétua; olhos insones, brilhantes esferas incapazes de admirar a luz das estrelas

meus olhos eram incapazes de ver o passado.

este manto frio que é a noite quando na condição solitária não caiu sobre os meus afetos; eu segurei forte nas coisas que acontecem somente após o amanhecer, embora todas elas estivessem ainda - e sempre - adormecidas quando delas necessitei.

houve um trânsito, uma lua escondida atrás de outra lua escondida atrás de um planeta; o tempo uivou baixo, atravessou as folhas e as persianas até que a verdade respirou fresca perto do meu rosto.

11 de agosto de 2012

carta de aniversário


Estela, querida, te peço perdão por escrever. Segurei o máximo que pude, mas já passa das onze e não aguentei. É muito emocionante passar pelo aniversário da única pessoa que amei sendo compreendido e gostaria de te desejar a maior das felicidades.
Sabe quando você não consegue se imaginar mais feliz? Eu também não; mas no dia que cheguei mais perto disso estava contigo. Nem preciso dizer qual foi este dia.

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Não precisava. Todo o tecido da felicidade de Olavo estava esticado sobre um único dia, ligeiramente estranho aos afetos de Estela, mas compreensível - este papel importante que a compreensão teve fora também um sacrifício.

Acordada de uma noite difícil - da primeira noite juntos - requentava o alívio de ter a suposta ideia de recusa trocada por uma longa e delicada discussão; permaneceu decidida a encontrar respostas, precisava delas, não podia se sentir ridícula naquelas condições - nua num quarto artificialmente frio por um antigo aparelho de ar condicionado - e não podia se expor, deveria virar o jogo dos argumentos para trazer à tona verdades que Olavo escondia como um menino esconde um jarro quebrado da mãe. Sentia-se tola, queria ir embora - ele não permitiu, ofereceu, mas não permitiu e essa prática dúbia tornou-se diária desde aquela noite - tinha feito algo errado; na verdade tinha acertado tanto que só poderia ter recebido uma leva de má sorte nos resultados; 

- mas é isso?
- é.
- então não...
- não, não é você. óbvio que não é você, não dá pra ver o estado em que eu tô?

e esvaziou essa memória ao som de talheres e pratos estalando na cozinha, uma manhã branca, com um céu ondulado de nuvens que pareciam os contornos do pé direito do quarto; Olavo preparou todo o café da manhã, estava sorridente; estava satisfeito. E em meio a xícaras e possibilidades, achou que estava distante, que a mesa os dividia, sentou-se mais perto, abriu o jornal, sorriu. Bebendo deste alívio, Estela despreocupou-se, encontrou as próprias mãos quentes outra vez e naquele momento deixou-se enebriar por um certo conforto que muito tempo depois descobriria ser um véu a amenizar seus sentidos inseguros;

àquela época não poderia saber, mas era normal que os lençóis ainda estivessem frios quando

- escuta é chato falar isso, mas você precisa ir embora.

as paredes mostraram, pela primeira vez, suas longas costas.

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Pois bem, dias como aquele virão com carga redobrada pra ti. Não preciso nem desejar, é certo. 
Falando em felicidade, sua planta está linda. Parece que fica à espera do nosso amadurecimento. 
Enfim, aproveite o resto de aniversário. Espero que no próximo eu possa ao menos comprar um presente e entregá-lo em mãos.

beijos e parabéns.


7 de agosto de 2012

brincar de sombra


brincar de sombra com o que eu não sei

calor, carinho e luz

desconhecido à rodear
as barras do meu vestido

dançar sob o Sol
rir

dizer adeus
adeus, moço
adeus!