30 de março de 2007

O Sentido da Guerra


Quando paramos para observar as várias reportagens, artigos e imagens da cobertura jornalística de uma guerra nos perguntamos qual é o sentido de tudo aquilo. A mídia, e até mesmo os países envolvidos, não deixam claros os objetivos dos ataques, das bombas, nem explicam o desespero e as mortes.

Como brasileiros, somos um povo que habita uma região pacífica em relação a conflitos internacionais, e por isso visualizamos a guerra dentro de uma idéia de ilusão, como se estivesse muito distante e não fosse um motivo de preocupação. Isso é reforçado por uma lógica natural do ser humano: a de se interessar ou se preocupar apenas com aquilo que perturba diretamente sua vida de um modo presente. De fato, uma guerra que explode no Iraque não irá influenciar diretamente a rotina cotidiana de um simples trabalhador. Não de forma que o impeça de fazer alguma coisa ou coloque em risco a sua sobrevivência. Indiretamente, uma guerra no Oriente Médio o afetaria causando aumento do preço do barril de petróleo, o que geraria um aumento de todos os seus derivados. Porém, poucas pessoas associam a alta de cinco centavos do preço da gasolina na bomba a conflitos no Oriente Médio.
Nós questionamos o sentido da guerra apenas por hábito na maioria das vezes, apesar de experimentarmos um sentimento de impotência, este sentimento se perde em meio a pensamentos próprios e razões inválidas diante, do que sente alguém que perdeu parentes e o lar por causa de ideais que nem ao menos conhecia ou valorizava.
Existem, é claro, pessoas que dedicam tempo e a própria condição de vida, exclusivamente para trabalhar contra a existência de guerras e demais conflitos, e o fazem mostrando que toda aquela real encenação bélica não vale à pena. E é um desperdício até mesmo de um dos principais produtos da guerra: o capital. Mas, não estariam essas pessoas apenas tentando acalmar o próprio sentimento de impotência frente a algo tão forte?

O sentido da guerra é uma consequência de interesses e motivos, sejam eles religiosos, étnicos, ideológicos, econômicos ou territoriais. Podem ser também de longa data, recentes ou súbitos. Um motivo medíocre e súbito gerou a guerra mais rápida da história, que durou apenas 37 minutos, e aconteceu da seguinte maneira: Uma esquadra inglesa decidiu ancorar no porto de Zanzibar (capital de um conjunto de duas ilhas pertencentes à Tanzânia), na África, em 1896, para assistir a uma partida de críquete. O sultão de Zanzibar não gostou e mandou que seu único navio atacasse os ingleses. Quando o navio abriu fogo, os ingleses o afundaram rapidamente e ainda destruíram o palácio do sultão, matando quinhentos soldados. Zanzibar se rendeu na hora e o sultão fugiu para a Alemanha.

A História nos mostra que muitas vezes, em tempos antigos, as guerras foram geradas por motivos primitivos ou causa infundadas, como a posse de terras e o desejo de controle e poder. Esses motivos hoje estão, em sua maioria, mascarados por interesses econômicos e/ou religiosos criados à partir do ideal capitalista e da crendice obsessiva. Quando de fato são ainda primitivos perante o avanço social e científico que se vê presente de uma forma geral em todas as nações. Entretanto, a maior parte desses avanços, e os de maior influência, estão concentrados nas nações desenvolvidas e são distribuídos de forma extremamente burocrática para o resto do mundo. O que gera desconforto, acordos, tratados, assembléias de órgãos internacionais e nenhuma solução efetiva. Só o que resta são os motivos primitivos, a provocação, a corrupção, as sanções, as acusações, a desigualdade social... a guerra.

Se olharmos toda a nossa trajetória, e procurarmos entender o que nos move em direção ao conflito, veremos que o sentido da guerra é, na verdade, a soma dos valores individuais e egoístas que todos nós damos à ela.

12 de março de 2007

A Árvore das Possibilidades


Aquela velha história de que só reconhemos o valor das coisas quando as perdemos é meio furada. Na verdade agregamos muito mais valor às coisas quando as vemos pela primeira vez, sejam valores positivos ou negativos. Como quando ganhamos um presente esperado, no momento que possuímos o objeto de desejo nós atribuímos o valor máximo a ele. Quando compramos roupas novas, quando comemos um prato tão bem preparado ou quando conquistamos alguém. Em todas essas situações há valorização máxima de uma forma positiva, mas também damos valores negativos às coisas. Valorizar negativamente é totalmente diferente de desvalorizar algo, uma valorização negativa é atribuir defeitos, ou ter repulsa, imediatos ao ganso de cristal que sua tia Helga lhe deu de natal. Desvalorizar é apontar defeitos após uma valorização positiva, é cansar, é ver o iPod cair tantas vezes no chão que fica com desgosto do objeto.

Mas e quando envolvemos algo abstrato às valorizações? Como uma situação, por exemplo. Está certo que uma situação é a soma dos valores de tudo que se encontra nela, como o local e as pessoas, enfim o ambiente. Se quisermos complicar as coisas podemos tentar entender a valorização de sentimentos, mas eu diria que isso seria impossível, já que para mim um sentimento é o resultado final de uma valorização simples ou complexa. Como uma bola de neve... você procura um apartamento para comprar, tem as primeiras impressões pelo anúncio, depois pelo telefone com o vendedor, finalmente ao atravessar a porta da possível nova moradia você está enlouquecido em adequar cada parede às expectativas que tinha antes de vê-las.

O que aprendi, até agora, com tudo isso é que talvez seja mais fácil enxergar as coisas como possibilidades, até mesmo as pessoas. Pode parecer muito racional à princípio, mas o segredo é deixar de ser hipócrita, e forçar uma perna para fora das regras sociais estabelecidas sabe-se lá Deus quando. O discurso é matemático, não tem outra maneira de explicar uma coisa dessas, ainda mais com a palavra "valor" envolvida. Se parar para perceber como fazemos cálculos o tempo do todo, será possível prever o resultado e as possibilidades de se chegar até ele.
Como diria a minha "adorável" professora de matemática, "no primeiro momento precisamos fixar a idéia e depois vemos a árvore das possibilidades", em teoria ela estava certa, mas na prática era uma piada. Nesse caso, como estamos falando de coisas e não números, temos muito mais chances de sucesso e aprendemos de uma forma ou de outra.

Não estou falando de estratégias ou dando dicas sobre como burlar a própria mente (hahaha nem tente fazer isso), só acho divertido querer entender e usar os coloridos botões disponíveis na minha cabeça e na cabeça dos outros. Enxergue as possibilidades, ganhe prática e coisas simples irão se tornar, cada vez com menos frequência, em um bloqueio que ri da sua cara ao ver você cavar a terra embaixo da cerca com uma colher. E o pior: de plástico.
Imagem: Dennis Warren, "Couple Reading Under Tree"

3 de março de 2007

Sorria, Corina


Ela não tinha mais o Reino do Ensino Fundamental, já não fazia trabalhos com lindos babados coloridos feitos com papel crepom, ou levantava sua mão rapidamente para questões de Geografia, História, Português, Ciências ou o que mais aparecesse para responder. Mas apesar de tudo, continuava a mesma burramente empolgada de sempre.
Agora, no segundo grau, tinha mais peito, consequentemente nenhuma bunda. Os hormônios lhe deram sardas e seu cabelo lindo se transformou em um (horrível) emaranhado de cachos indefinidos, que ela fazia questão de escovar ou prender quando pudesse. Infelizmente a mesma "sorte" não tiveram os neurônios, a simplicidade das coisas baseava-se no seu sorriso, uma rápida sugestão de cordialidade e ela abria os lábios em um sorriso perfeito, pelos menos os dentes eram brancos.

Corina, era assim que se chamava, dedicava seu tempo pensando em hipóteses. Assim, suas ações eram poucas e o ritmo mental estava deixando a desejar desde os já remotos tempos da oitava série. Claro que ela tinha amigos do mesmo rebanho, aquele típico rebanho que se apresenta intelectualmente e cai em prantos no final do dia, ao ver a derrota se tornar mais óbvia dia após dia. Não se podia negar que sua dedicação era muito religiosa, "façamos isso e isso desta forma, tudo ficará lindo!" e abria um sorriso.

O problema dela eram os outros, e ela sabia disso. Os outros, entre conversas de temas musicais, culturais, políticos, e projetos pessoais, usavam como tema de conversa inútil a auto-ridicularização que certas pessoas (como Corina, linda!) sofriam diariamente em sua vida. Sim, não eram comentários saídos do nada, Corina vestia a carapuça de chata e engraçadamente-irritante quase todos os dias, sem nem ao menos perceber, ou então percebia, mas não conseguia se livrar daquele vício.

Hábitos comportamentais são difíceis de mudar, na maioria das vezes a pessoa precisa passar anos tentando mudar o jeito de ser em alguma determinada coisa, porque para mudar em tudo precisa ser louco, tipo doidão mesmo. Mas deixemos os meus comentários de lado, voltemos à Corina, linda!

Discutia-se muito sobre ela, era um dos alvos prediletos, não tinha como não ser. Seu futuro provavelmente será rodeado de eternas tentativas de tornar destaque entre a multidão, mas ela já teve sua oportunidade, acredito que ainda tem salvação, realmente acredito nisso (PFF! OK, admito, ela está ferrada.)
Se ao menos ela parasse de se mostrar como uma personagem, e mais como uma pessoa com próprios gostos e opiniões sinceras sobre as coisas, ela desenvolva melhor o lado social. E quem sabe se parar de se fazer de vítima para ela mesma (se estiver lendo Corina, sabe do que eu estou falando, e é sério.) encontre caminhos menos pedregosos para o destaque tão almejado.

As pessoas comentam muito sobre as outras, sei que ela não é muito diferente de mim no quesito "vidas alheias", muito natural na nossa tenra (e LINDA!) idade. Mas se Corina viesse falar comigo, eu a ajudaria. Acredito que exista a "troca de favores involuntários" entre as pessoas. Ela não saberia que eu estava a ajudando, e ela certamente me daria algo significativo em troca que eu só descobriria mais tarde.

Mas por hora, eu só vou ficar no raso, falando ali das derrapadas básicas de Corina, e um dia ela vai cair de cara no chão ou vai comprar um sapato novo. Torço pelo sapato novo. Porque o teu tá muito feio hein, Corina!