Deitou-se na areia quente, esgotado pelo tédio, animalizado, viu-se tal qual um leão, uma fera impaciente, um jovem à espreita dos próprios pensamentos. Assim, jogado entre toda a natureza que explode perto do fim do dia, o Sol lhe sorria. Sua retribuição era um orgulho fechado, oco, facilmente despedaçável se soubessem como atirá-lo contra as convicções humanas, aos erros que todos cometem, e principalmente ao julgamento dos olhos, tão insensato e impuro.
Torcia e lutava por um amor claro e franco entre as partes. Vivia diariamente uma constante tentativa de controle do ego, resguardou-se com vários espelhos mentais, buscando em todos algo que lhe fosse semelhante e ruim, sentiria-se desta maneira dentro do conjunto vivo e óbvio da juventude que trazia no rosto, mas não nos sentimentos. Calou internamente sua voz por alguns momentos, observava o silêncio do vento entre as coisas, e por fim, julgou-se, uma, duas, diversas vezes até que sentisse cada frase como uma trombeta numa orquestra de palavras e ideias todas insultando umas às outras, tentando fazê-lo agir, correr, se possível, não o ato literal, mas fugir de si antes de engolir-se e sufocar.
Tudo era no final uma bobagem, um escândalo abstrato desnecessário; armando-se contra si como podia, levantou-se e olhou o horizonte. Amava, ótimo. Odiava-se no papel imbecil e vazio de importar-se com a opinião dos outros, mas esta era uma outra situação que também lhe incomodava no momento, uma pública e clara; e mentirosa, mentia cegamente aos outros porque todos o fazem.
Um riso fez com que o Sol ficasse tímido e brilhasse menos, o azul tornou-se um pouco aguado, e olhando para trás em busca do outro presente, perdeu em boa hora o novelo disforme que juntava no consciente.
- Que fazes aí parado olhando para o nada?
- Não é o nada, veja.
O outro então percebeu que o horizonte ganhava um destaque especial. O Sol fazia seu último agradecimento efeverscendo o mar em laranja. E o céu coloriu-se de um azul denso, daquele impossível de se achar em caixas de lápis de cor.
- Sensacional. Mas no que estavas pensando vendo tudo isso?
- Ora, no que o horizonte tem para mostrar de mais belo e assustador: o futuro de um passado muito próximo.
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