Há em algum lugar aqui perto - que ainda é distante - um deserto vermelho e marrom, um espaço aberto e imenso; dancei no deserto por noites inteiras, desenhei constelações no céu e no chão, e ele me deu calor e frio, me fez cair em amores pela solidão, onde eu me entregava perdido à uma lua cheia, aos flamingos dispersos, ao sofrimento do Sol em morrer no horizonte; conheci meus sentimentos mais egocêntricos, minha única proteção contra toda a secura, contra às plantas e seus espinhos, feri-me tantas vezes tentado à encontrar uma novidade.
Eu via, todos os dias, nuvens enfileiradas deslizando até as montanhas, e nelas reconhecia rostos, formas, explorava os cantos brancos das lembranças, e quando não havia mais nenhuma no céu, eu me questionava mais uma vez, sem buscar razão ou sentido - há muito que sentia medo em tentar encontrar essas duas coisas tão diferentes nos meus atos ou em qualquer objeto diante dos meus olhos -, e dentro de mim seguia os passos até um lago fundo e tranquilo, e diante desses antônimos, via minha realidade no deserto e meus desejos represados e silenciosos, queria largá-los na terra e dela fazer brotar algo que não tentasse fugir, ou algo que não fosse tão frágil e me ferisse ao toque, ou morresse em minhas mãos.
O mais difícil era entender que as lágrimas, tão benignas aos olhos, vinham em minha ajuda, mas o deserto nunca iria mudar, só havia uma chance, uma alternativa... e eu preferi não dizê-la, ou sequer realizá-la.
Só me restou o deserto, livre e óbvio; seco e caótico.