Você se lembra da noite no quebra-mar? Talvez a única por lá, e para mim a mais importante. Lembro do meu medo de que a conversa caísse no lugar comum e de como me desfiz, pouco a pouco, da personagem que me envolvia.
Quantas palavras, Pégaso, dediquei à fantasia das nossas memórias, quantas vezes fui ao fundo de cada diálogo para recuperar cada lágrima, mágoa ou sorriso que me parecesse importante. Quantas vezes o mar, o céu, a praia e o barquinho foram minha resistência à porosidade dos nossos afetos, bons e ruins, gentis ou amargos.
Era inevitável que a sorte nos trouxesse até o momento em que estas memórias surgissem desarmadas, e que nosso reencontro após tantos anos fosse um previsível resto de alegria difusa, amarela, com a textura de uma liberdade simples, quase infantil. Não somos e nem éramos, (um diante do outro) como poderíamos ser?
Apressamos a primavera com nossas escolhas, Pégaso, e mesmo que o destino nos envolva em uma futura charada, só posso acreditar que a minha maturidade trará conforto onde houver dúvida e afeto onde faltar o desejo. Não cabe a mim continuar o desenho de uma história que não terá prosseguimento e cujo fim, após um trajeto tão tortuoso, é um delta de águas claras que amansa diante do mar.
Você tem visto o céu? De que cor ele é?
E.
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