27 de outubro de 2007

Limousine

- Rode por aí.

Ordens vinham da boca como sempre, aquele eterno cheiro de couro envolta, tudo preto, motorista, carro, sapato e segurança, tudo de preto.
Aquela vida, onde tinha começado? Quando foi a primeira vez que não teve que abrir a porta do carro? O primeiro flash, o tapete vermelho, milhas deles agora. À essa altura tudo era hábito, nem sabia direito onde estava ou para onde ía, muito menos a última vez em que se apaixonou por alguém. Paixão tinha, pelo trabalho, pela vida, nada muito sólido, convenhamos, esse tipo de vida não é sólida, não da forma que deveria ser.

Negava, mas sabia. E queria, almejava loucamente, há tempos. Nem se deu conta quando estava indo para outro chão coberto... pensava se a cor tinha algo a ver com sangue, toda aquela história de idade média, absolutismo e cabeças cortadas, talvez. E imaginava os daltônicos, nenhuma atração fatal por algo que só seduzia pela cor.

Em trinta segundos reviveu cada uma das decepções e quase todas as paixões, vieram rostos e lugares, veio o beijo no motorista enquanto aquele som detestável das câmeras zunia envolta, carregando, estourando e recarregando.

Deslizou o vidro.

- Para casa.

Um comentário:

Pathy disse...

"Em trinta segundos reviveu cada uma das decepções e quase todas as paixões"

para mim bastariam dez segundos... ):