Sentada numa das rochas da praia, descansava do mundo das águas. Cantava sozinha, pensava assim, pois cada onda e passáro cantava com ela, ali na praia deserta quase ao amanhecer.
O corpo coberto de escamas-platinas, longos cabelos negros, uma respiração densa e profunda, respirava com o oceano, era o mar e tudo o que nele vivia ou reinava. Era mãe e pai daquelas criaturas, grandes ou pequenas, feias, lindas ou só estranhas. Era filha do Céu com a Terra, admirada e eternamente agraciada pelo Tempo, um fruto perfeito, e seus filhos dançavam em seus domínios livres, de cor transparente-azul-profundo.
Viu o Sol chegar e tocar-lhe o rosto, sorria e abraçava indiretamente toda a faixa de areia, vindo e deixando-a, como um encontro de desejos; deslizou para o reino das águas, e cada coisa viva lhe abriu espaço, sentiu-se amada, sabia amar, imortal não era infeliz, vivia só de paixão, e as estrelas que não tocava no céu fazia brotar no mar, e se chorava, choravam pérolas as conchas;
Foi um dia depois de piscar que viu o homem. E ao homem deu tudo que tinha, até o que não era pedido; e a ingratidão gerou fúria, a fúria matava o homem e os filhos dele. Agora esgotava-se todo dia, e via os pais sofrerem com ela, morria com eles, e vivia o homem.
Nunca mais voltou à praia; apesar do medo, não conseguia deixar de amar o homem. E sabia que se existisse o fim para ela, este chegaria antes para ele.
2 comentários:
eu com certeza teria muita dificuldade para escrever algo assim...
eu provavelmente, zuaria com alguma parte do texto.
admiro quem consegue escrever algo sério assim.
q
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