2 de janeiro de 2008

A Casa Novelha

Cheirava a tempo. Afinal foram dez anos sem vê-la, sem pisar ou dormir naquele lugar. Algo entre os tacos no chão e as coisas atrás da tinta seminova da parede respirava. Vibrava de leve, não eram os encanamentos do segundo andar, ou microterremotos da rua. A rua era quieta. Eram apenas lembranças, um punhado considerável.

'Parecia maior...'

Cinco portas na sala, portas nubladas, paredes brancas, quantas entradas? Três. A nova velha casa, ou a casa novelha como fosse, parecia ter perdido um certo brilho.
Não há tantas flores no jardim tomado pelas plantas, o portão emperra, e ela viveu dois anos vazia, e foi justamente nesses dois que envelheceu dez de uma só vez.

Logo vieram as caixas, veio o presente morar no passado, ainda com nacos daquele tempo, mas naquela primavera tudo era bem diferente, tudo movia-se pesadamente para o pior. Neste verão existem é claro algumas dúvidas, algum desgosto, mas a casa vive, e seus 'antinovos' habitantes (ou quase habitantes) sabem como lidar com isso. Na verdade, inconscientemente, ninguém nunca saiu dali, ali foram os anos mais longos para cada geração. Ali nasceram os primeiros medos do mais novo, as incertezas da do meio, e a semente de refúgio da mais velha.

Assim trouxeram consigo o relógio que só tocava naquela casa, o real e o metafórico, ambos para despertar todo aquele lugar, cujo destino era insólito até agora.

Sorriu desajeitadamente e suspirou, enquanto a casa bocejava.

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