15 de janeiro de 2009

ao desejo

Assim ela escreveu:

Querido,

as flores do último verão, aquelas que você me enviou, ainda vivem; vivem como eu. De uma mentira, pois no final de cada semana compro novas flores idênticas e com elas sua presença ausente; você só no meu desejo.
e hoje acordei sem memórias suas. Só me dei conta quando fui invadida pelo seu rosto naquela fotografia velha dentro do livro perfumado com seu cheiro; a saudade não foi triste, foi um sopro entre meus atos cotidianos, minha vida em meio ao verão.

(por um breve momento ela sorriu e, como se exigisse uma nova ideia ao respirar, os ventos sopram-lhe as folhas de papel e o cabelo, trazendo também um novo fôlego...)

A verdade, meu bem, é que me despeço do nosso jogo íntimo da distância. À mim pouco importa a máscara que carregas, se é que esta também já não se consumiu em meio ao assédio das figuras que te acompanham; se me visse novamente, quero dizer, como sei que vai me ver, irá me encarar como novidade, como se seus olhos tivessem perdido a cor azul-grafite do seu ego. E então, sua vontade, enfim, será minha.

...

Um comentário:

Jana Cambuí disse...

Ótimo texto, como sempre.
Isso é algo muito difícil: um homem saber sentir como sente uma mulher. e você conseguiu a tradução, o intercâmbio, o contato.