Hesitava em levantar da cama porque era Domingo. Um daqueles típicos, com Sol, o ar leve e gente na rua carregando caras de sono e sorrisos frescos. Mas ela delicadamente se enroscou ainda mais entre os lençóis, deixando apenas a cabeleira ruiva para fora.
Lílian temia o dia como um todo, não se satisfazia aos Domingos: acordava tarde, nem sempre tomava café da manhã, e corria para ler o horóscopo na revista; só, e em devaneios pela casa, vestida apenas com uma blusa azul e calcinha branca, ela olhava o telefone da cozinha, depois o teto da sala e finalmente arrastava-se em direção a mesa de trabalho no quarto. O tédio que a consumia não era por falta de prazer com as coisas óbvias, livros e amigos, tudo isso orbitava muito próximo das suas mãos, mas longe demais do seu desejo. E tentava se distrair da pior maneira possível, abrindo todas as janelas e ouvindo música em tom levemente alto.
Trágico seria pensar nele, pensava. E já tinha, obviamente, cometido sua falta. Mesmo com a cabeça nas nuvens, lá estava, saído do nada, em meio às frases mentais sobre o que comer, que parede pintar, para quem ligar, e ele surgia, fruto do seu humor agradável, da sua saudade. Considerou então, sem medo, apenas dando um gritinho abafado e apertando os olhos, que estava apaixonada.
O telefone tocou, mas sem assustar-se, ela abriu devagar um olho, depois o outro, deslizou até lá e atendeu: era ele.