11 de fevereiro de 2010

O escritor e a colecionadora

Mais preocupada em encontrar novas conchas do que novas amizades, Maria estava meio indisposta com o Sol quando enxergou o "moço dos cadernos azuis", como ela contaria mais tarde.

A praia onde estavam era quase deserta e, naquela hora, só havia a barraca do jovem, com seus pequenos cadernos azuis, e Maria, do alto do seu pequeno tamborete de doze anos de idade. E encontrar os olhos dela, fixos no dele, o fez temer por alguns momentos.

Muito educada, o cumprimentou, apresentou-se e disse o que estava fazendo. "Procurando conchas maiores, meu irmão e eu colecionamos, hoje também estou procurando algumas mais claras, mas está difícil."

Ele, com um quê um tanto perturbado, apenas sorriu levemente. Hesitou, mas disse à ela que poderia chamá-lo de "Beto".

Ambos conversaram muito rapidamente, ele precisava terminar o que estava escrevendo, e ela questionou a razão da pressa, e o conteúdo da pequena página de um dos cadernos.

"Se eu não terminar logo, não poderei te entregar."

Segundo ele, o que escrevia era uma verdade, uma história que ele mesmo ocultava dela, antes de conhecê-la.
Obviamente, Maria ficou profundamente confusa com tudo aquilo, mas por curiosidade, não quis interrompê-lo. Afastou-se um tempo depois, e continuou sua busca por mais conchas. Quando retornou à barraca só encontrou um página com uma concha como peso em cima.

"Sei que não irá entender a princípio tudo aquilo que está escrito aqui, mas não poderia contar de outra forma. Sei também que sua curiosidade irá levá-la à cometer, talvez, a quebra do meu pedido de silêncio, mas, menina, quando me encontrar, esteja atenta aos próprios sentimentos."

Ela iria ajudá-lo.

5 de fevereiro de 2010

Flor

Ela deslizou os dedos pela mesa da sala à caminho da cozinha, e trazia junto ao corpo, segurando como podia, um conjunto de copos plásticos laranjas. Sentia-se assim, translúcida, invadida pela luminosidade da tarde àquela hora, desejada e cercada pelo Sol, como os copos, como as pernas alheias sacudindo debaixo d'água na piscina. Não podia escapar deste sentimento, essa coisa estranha que era a esperança - e talvez não fosse isso - quando esparramada sobre o coração, uma rédea que fazia-o trotar bonito, e um leve arrepio percorria todo o corpo; ela sorria.

E enquanto suava mais, pelo nervosismo e pelo calor dos fundos da casa, revendo as coisas do almoço, se estavam em ordem, se todos estavam em ordem, parou um momento para ouví-los. Discutiam, animadamente, sobre o jogo de quarta, uma vitória; Sofia piscou duas vezes, e encontrou apoio na bancada da cozinha, abraçou-se, em dúvida, cismada, percorrendo com os dedos do ombro até a cabeça, e nela encontrou uma flor pequenina, um jasmim meio murcho, pálido. Comeu-o.

Viu-se minutos antes, recolhendo os copos, quando apareceu-lhe a surpresa, chamando seu nome, e toda molhada, vestindo um biquíni roxo: "Achei o seu presente de hoje." E recebeu ali o jasmim no meio dos cabelos, junto com um beijo na testa; rápido e seco, passou um vento, mas ela estava segura de que a flor não se desprenderia, já que não pensava nela.