Mais preocupada em encontrar novas conchas do que novas amizades, Maria estava meio indisposta com o Sol quando enxergou o "moço dos cadernos azuis", como ela contaria mais tarde.
A praia onde estavam era quase deserta e, naquela hora, só havia a barraca do jovem, com seus pequenos cadernos azuis, e Maria, do alto do seu pequeno tamborete de doze anos de idade. E encontrar os olhos dela, fixos no dele, o fez temer por alguns momentos.
Muito educada, o cumprimentou, apresentou-se e disse o que estava fazendo. "Procurando conchas maiores, meu irmão e eu colecionamos, hoje também estou procurando algumas mais claras, mas está difícil."
Ele, com um quê um tanto perturbado, apenas sorriu levemente. Hesitou, mas disse à ela que poderia chamá-lo de "Beto".
Ambos conversaram muito rapidamente, ele precisava terminar o que estava escrevendo, e ela questionou a razão da pressa, e o conteúdo da pequena página de um dos cadernos.
"Se eu não terminar logo, não poderei te entregar."
Segundo ele, o que escrevia era uma verdade, uma história que ele mesmo ocultava dela, antes de conhecê-la.
Obviamente, Maria ficou profundamente confusa com tudo aquilo, mas por curiosidade, não quis interrompê-lo. Afastou-se um tempo depois, e continuou sua busca por mais conchas. Quando retornou à barraca só encontrou um página com uma concha como peso em cima.
"Sei que não irá entender a princípio tudo aquilo que está escrito aqui, mas não poderia contar de outra forma. Sei também que sua curiosidade irá levá-la à cometer, talvez, a quebra do meu pedido de silêncio, mas, menina, quando me encontrar, esteja atenta aos próprios sentimentos."
Ela iria ajudá-lo.