6 de fevereiro de 2007

(Sempre) As Horas


Um dia, quando chegar a hora, nosso tempo irá acabar. Nossas vidas irão murchar de pouco em pouco. Bem como cada árvore, cada flor, cada jardim que lembrarmos. E os rios e mares que conhecemos irão secar.

Nosso estilo de vida, nossos livros, nossas músicas. As idéias, os grandes pensadores, a moral, a ética, o velho e o novo. Nada permanecerá.

E de certa forma nos preparamos para isso de maneira natural. Percorremos situações, conhecemos pessoas e lugares, adquirimos o conhecimento herdado de outras gerações. E também fazemos coisas simples, vamos à praia, compramos pão, olhamos pela janela ou lemos um livro. Estamos sempre à mercê das horas. Usamos relógios, vemos relógios, ouvimos relógios. O tempo nos acompanha como um escravo. Até o último acorde, quando o Sol se pôe e nos preparamos para as novas horas.

Mas nada nos basta, nada nos sacia, vivemos para nós mesmos, buscamos a felicidade e queremos esquecer nosso lado infeliz. Mesmo sabendo que estes conceitos são falhos e antiquados, que o que nos cerca são as horas.


Temos medo, vivemos com um instinto que nos cega e nos consome. Fazemos o inusitado, recebemos prêmios próprios e aplausos da consciência. Aí nos perdemos, enlouquecemos, suamos em busca do sempre, do ideal imortal, do fixo e do constante, como um vício nojento. E esquecemos completamente de tudo e de todos, inclusive de nós.

Mesmo os iluminados, os eternos benéficos, os visionários e poetas podem perder o prumo, o ritmo, o fio. Isso porque não percebemos que quando tudo acabar, quando não houver mais o anseio e o desespero.

O que nos prende e faz definharmos como uma árvore no deserto são as horas. Sempre... as horas.

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