Nos classificados, aluga-se um coração
Amplo e recém-apaixonado, com vista para as paixões futuras
Seminovo, vermelho, escarlate-envenenado
Aluga-se um coração para jovens de talento
Amores desmedidos, canções de alento
Tantas alegrias, tanto espaço!
Só por hoje, aluga-se um coração apaixonado
Para quem quiser ver, é só vir e abrir
Chaves serão entregues só depois do contrato
Aluga-se um coração renovável no verão
Para temporadas, moças ou rapazes
Oportunidade única, sem distinção
Aluga-se um coração sem grades na janela
Com portas abertas e brisa do mar
Última chance, pronto para amar
Aluga-se um coração pela melhor oferta
Nos classificados do povo, da gente sonhadora
Para quem quer amar como se fosse pela vida toda.
18 de setembro de 2007
16 de setembro de 2007
Regras do Jogo
Tolo é o homem que lança os dados de olhos fechados.
Uma mesa verde (sua vida), fichas empilhadas (seus desejos), cartas na mão (suas ações) e apostadores (poucos amigos).
Sua estratégia não vale nada se os outros não conhecerem os passos que você sempre segue. Seu orgulho não vale nada se você amarga uma ideia na cabeça.
"Time is money" é o que dizem, nesse caso... tempo é movimento. Aqueles afobados pelo novo, que agarram a sorte que têm com tamanha paixão e delírio intenso, perdem facilmente o sabor fino da vitória que vem acompanhado de olhares admiradores e comentários naturalmente expostos. Porém, os estáticos e conservadores deixam o fruto apodrecer no pé, como se o destino final fosse a única opção inegável, a única escolha que têm a fazer.
O longo prazo com os olhos nas cartas alheias não é tão simples, fazem de tudo para enganar, tapear, demoram de propósito, se apresentam com lindas oportunidades, como se o mundo em que vivem fosse um eterno conto de fadas. Pura ilusão.
Dê a eles algo para pensar, para roer, satisfeitos por um tempo não irão incomodar, mas saiba apresentar a jogada de maneira certa, e por partes, nunca como um todo. Pode parecer mesquinho, um ultraje aos ilustres na mesa, mas acredite, eles merecem.
O orgulho nunca será usado, deve ser mantido lacrado atrás dos olhos e em nenhum momento aparecer nos pensamentos que rodeiam a estratégia correta.
E quando o azar vier, aquele que transforma os céus azuis em tempestade, o controle deverá permanecer intacto, por que esta será a deixa para a mudança esperada, para a troca no bolo de cartas, e mesmo contra os princípios naturais... será a hora das apostas alheias subirem.
A vingança (não há palavra que defina) virá, não pelas suas, mas das mãos do jogador à sua esquerda, o mesmo que festejava a sorte como um viciado.
5 de setembro de 2007
Dias de Fuga
- Meu caro, o que há de errado hoje?
- Espero que a terra abra e me coma, mesmo com o alívio brutal que me domina, todos os dias têm sido de fuga.
- E você foge do quê?
- Corro dos pensamentos, dos problemas, quero esquecer qualquer tipo de emoção boa ou ruim.
Sem perceber perdemos o céu e andamos com um cabresto nos olhos condenando a visão. Pelas ruas, entre tanta gente, só pensamos no que vamos fazer e como vamos fazer, já passa das duas, e não chove, ninguém nota o cinza acima das cabeças, ainda estamos tentando esquecer as cobranças pessoais, o inquérito dos egos, dos personagens que querem aparecer. Mas tudo volta, e revolta, comendo cada pensamento leve que desejamos ter; opa, uma vitrine. Não, ainda há aquela outra coisa que queremos comprar e levar para dentro de um armário, engavetar como cada infeliz figurino que usamos todo o tempo.
Em dias de fuga só se pensa em lugares visitados, em pessoas que nunca mais vimos, naquele cheiro de onde já moramos. No amor que nunca tivemos.
Sapateamos em escadas, corredores, com objetivos curtos, chegar é o principal, sair torna-se um pesadelo. Ouvimos nossa própria respiração, descendo e subindo, ainda tem tanta coisa pra fazer.
Paramos. Os dois olhos observando o que há de errado (meu caro, o que há de errado hoje?), tudo passa na frente e é tanto... de tudo. Mas então percebemos que não estamos vendo o que há fora e sim remexendo o que está dentro.
Então esperamos que algo dê errado (... que a terra abra e me coma), mas nada dará errado porque tudo está certo (... o alívo brutal que me domina). Inventamos um erro, forçamos uma ideia que passa pela brecha aberta por um simples questionamento.
Meu caro, o que há de errado hoje? Não está vendo? Os dias agora são de fuga.
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