28 de novembro de 2007

O Colecionador de Tempestades

Várias vezes perguntaram-lhe o que havia; o que havia detrás da porta dos fundos, o que eram aqueles tremores leves e os estalos longos? Ele não respondia. Irritava-se, mandava todos embora, olhava para porta amaldiçoando-a.
Foi a menina que o seguiu, num daqueles dias cinzas, e como já estava bem velho não percebeu a pequena presença.
Ela escondida por arbustos e pelo som do vento, apenas viu o que nunca imaginara, o velho abriu os braços para a tempestade, como um louco, e de forma insana ordenou que se calasse e viesse sem demora. Imediatamente o céu rodou, gemeu grosso e espiralou para as mãos do homem, virando uma única forma concentrada e tempestuosa. Ele engoliu aquilo como se fosse normal e foi-se para casa.
A menina atordoada, só continuou por impulso, queria entender até o fim e só conseguiria isso arriscando. Viu-o abrindo a porta sempre fechada, e lá dentro só havia luz súbita e escuridão plena, sentiu todos os medos num só e tapou a boca para não gritar, pois quem gritou foi o velho em voz de trovão, vomitando vapor cinza e faíscas lá dentro.
Ela tentou correr, mas não conseguiu, sabia que deveria ficar ali, apesar de não querer. Ele veio e lhe disse: "sabes agora o que sou, conheces a minha glória e o meu infortúnio, és então abençoada e amaldiçoada, pois quando chegar a minha hora ela também será a sua."
E toda vez que os céus cobrem-se de cinza, a menina acalma os outros dizendo que a tempestade sempre termina.

Um comentário:

moa disse...

Incrível como sua escrita evolui cada vez mais.

Guardo comentários sobre o texto em si.

Amo-te!