O Tempo é um estranho.
Mas nada nos impede
de correr
de sentir
de viver
Mas chega o momento do confronto
nos reflexos, nas horas, nos acordes
eis o estranho sobre nós
Acorrentamo-nos ao giro, ao círculo
Descansamos sob a eterna condição
Daquele onipresente, acima de nós
acima Deles; sejam Eles os seus
ou os meus
Perca, use, ganhe, compre
Mate.
Materialize
O Tempo é um estranho
e não há nada entre nós;
Peço aqueles reconhecedores de desejos:
livrem-se
libertem-se
exijam
Não condene, não desperdice
aprisione, mova-se
aja; há tempo
Eis a palavra crua sem tempo,
critérios ou escolhas
há tempo
Há um estranho sedutor.
22 de março de 2008
19 de março de 2008
No Chafariz
No próprio labirinto permitia-se correr, mas não estaria indo longe demais? Desconcentrada, sem posses ou preocupações, afagos vagos, sobreviveria?
O peso da moral, da família, da onipresença; para onde foram todos aqueles que sorriam?
Temia o desmoronamento de seus princípios, sempre tão difíceis de manter, intactos, brilhantes no distante intocado de si, bem ali onde ninguém atingia. Mentira, claro. Todos conseguiam trilhar os atalhos até o pequeno paraíso, começava pelo básico e ía até o profundo; do nada que separa tudo até a alma inconsistente, apanhada num súbito envolvimento; desleixo, descompasso, é a pura sedução. Todo corpo derrete-se em desejos até que só reste uma massa sólida de amargura, que não possui qualquer mel ou licor, é apenas caroço estéril; estava seca. Seca de sentimentos, dor, felicidade ou qualquer coisa que gerasse calor ou frio, vivia sempre um único dia porque este existia internamente; sabe-se que o infinito habita em cada um, pois era nesse eterno hiato, entre respirar e cessar, que jogara todas as suas âncoras.
Agora o conflito. Lembrava-se do passado como quem observa o filtro usado de um cigarro; detalhes comuns, filmes repetidos, noites mal dormidas, todos aqueles pequenos feitos tão mais memoráveis que os grandes; enfim, o normal. Mas veio a onda; a praia, o barco, as flores, nada disso importava, marcou-se a onda.
Louca; perdeu-se na memória, revolvia como água, estacou o desespero, lágrimas, vítima da própria inconclusão, recostou onde podia, 'onde' era público; olhos. Como vivia no presente? Quem era a nova figura em que transmutara-se, porque não ía além? Para onde direcionar a culpa?
Derramou-se no chafariz, na verdade ninguém se importava, o dia era sempre o mesmo, mas através do vidro um pouco distante, e pronto para retomar o movimento, ela encontrou um olhar, e nele havia o par da sua lágrima esquerda.
2 de março de 2008
Domínio
Deitou-se inconsciente. Dominado pela mente incontrolável, só ouvia a vibração, consentia o prazer de algo vivo dentro dele atá-lo; cordas feitas de pensamentos apertam muito mais que as de algodão, sangram os sentimentos até esvair a posse que cada ser tem de si, até que o instinto suavemente acaricie as rédeas, vermelhas de ódio ou paixão, e as puxe.
Não há controle.
Se emitisse um som, não seria palavra, seria voz sem mente; enquanto isso a corte montada lá dentro riria, dançariam entre máscaras de virtude e pecado; eis o inconsciente.
Era ele palavra e ação sem a razão e a lógica? Era ele, tão grandioso e pleno de si, irresistível aos olhos, largado no chão em pleno delírio?
Veio o brilho; sentia-se molhado e sedento, a incrível dualidade, primeiro físico depois psicológico, de mãos dadas, os reis gêmeos pareciam ter concordado um com outro. Levantaram o corpo.
Não mais desejava aqueles momentos, somente os que poderia gozar perfeito de si, num falso descontrole, feito na forja da impaciência ou da ilusão.
Ar era ar, e dele, faria vento.
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