Rogoberto era um porco feliz e falante. Claro, todos animais falam alegremente entre si, mas Rogoberto exagerava, não só pelo excesso de falatório, mas também por exagerar em qualquer coisa. Ele provinha de uma linhagem de porcos revolucionários e barulhentos; desta ascendência conservava apenas o barulho e era do tipo mesquinho e egocêntrico. Dizem que todos os porcos o são.
O problema principal de sua personalidade tão agressiva, na visão dos outros animais - oh sim, ele morava em uma pequena fazenda -, era a falta de tato e o descontrole crítico. Rogoberto não fazia a mínina questão de ser gentil se não fosse de seu interesse. Falava alto, xingava as galinhas, as vacas, arrumava intriga com os cavalos, gargalhava dos pequenos acidentes sofridos pelos patos e julgava ser superior a quase todos ali e em quase todos os aspectos. É evidente que Rogoberto nutria um fardo de mágoas e inveja, que nem mesmo ele compreendia às vezes, dos outros animais, e expressava isso aparentando uma autoliberação.
Esse remorso com o mundo vinha principalmente da admiração por determinadas qualidades que Rogoberto observava nos outros. Ele tinha pequeninos traumas pessoais, como qualquer um, mas convenhamos, Rogoberto era um porco. Odiava ter aquele pavoroso rabo enroscado (enquanto o cavalo tinha crina e cauda longas); aqueles pêlos grossos cobrindo sua linda e rosada pele (enquanto os gatos tinha pêlos lisos e sedosos, inveja os gatos principalmente); e acima de tudo: seu corpinho roliço e ligeiramente desajeitado. Este era o seu ponto fraco e, sempre que Rogoberto passava dos limites, os outros animais sabiam como atingí-lo.
O pesadelo pessoal de Rogoberto só veio ficar evidente algum tempo depois, quando ficou claro que ele não havia sido criado para ser um progenitor e só lhe restou comer, reclamar e espernear, e comer novamente, já que ninguém o olharia com olhos de malícia. Sobre ele só recaíam olhares distraídos ou de pena.
É curto o reinado de um porco, mas Rogoberto ficou durante muito tempo só na mesma rotina e diversões curtas, e ninguém procurou ampará-lo, pois entendiam desde o início qual seria o seu destino, aliás só haviam dois; uma restrição óbvia e evidente pelo seu comportamento, ou melhor, pela sua existência.
Não há perdão para os dias de guilhotina. C'est la vie, como dizem na França. C'est la vie, concluíram os outros animais.