Tudo era enfim uma história vivida; sentimentos completos, redondos e macios, aqui e ali um ou outro frondava-se pelas memórias do homem de lábios secos, como frutos perigosos de carne suculenta. Ele começava a esquecer o sabor das lembranças e as deixava inertes, até que ficassem opacas e perdessem sua beleza externa, aquele primeiro momento quando uma delas desliza por trás dos nossos olhos e - mudos - às vezes fugimos, às vezes ficamos.
Inquietos estavam os pêssegos na fruteira e com eles as cores do instante, retocadas pelo desejo. Percebeu que a saudade era como a fome, pois a fome só nos traz a ausência e a necessidade, não o alimento. Queria os frutos outra vez. Sentí-los como no momento que revivia em sua mente. Assim era o fruto-sentimento - comido a garfadas de vontade - presente, memória e mentira.
Nenhum homem está a salvo dos frutos da saudade.
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