Esta noite usei como desculpa uma xícara de café. Estreita, mas funda, como os olhos de um amante embriagado, nela não encontrei qualquer resposta, talvez uma única pergunta: se não gostas de mim, por que me provas? E digo que não sei a razão deste pequeno hábito. Pode ser o calor, o conforto e até mesmo o segredo que cada xícara possui que me faz querê-las. Minto, sei que lido com elas como faço com afetos. Esqueço que são feitos de paciência e dedicação. Ignoro o sentimento daquilo que vislumbro como possível autoprogresso diante do obstáculo: minha mente difusa.
Sei que tudo poderia ser mais simples, mas para mim não é. Considero muitas coisas - e pessoas - vazias, tediosas ou desimportantes, e na minha ansiedade de apenas viver sem escolhas, sem perder ou ganhar, sinto que me condeno ao esteriótipo da mediocridade; xícara meio cheia, xícara meio vazia.
Dizem que vivo de fantasias, mas sei bem que vivo é de uma realidade muito óbvia, tão ordinária que me faz parecer livre daquilo que condeno, este meu medo; mesmice. É o que me conforta na xícara de café, ela me permite querer ir a fundo nas coisas minhas, mas apenas querer e não ir de fato.
Certa vez alguém partiu os grilhões dessa existência. Mas... aqui é o meu lugar, e assim eu não fugi, eu não fiz nada. E o nada abateu-se sobre mim de uma maneira pior do que tudo que poderia ter acontecido.
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