Igual a tantas tardes de Verão, aquela chegou zunindo, fritando baixo o asfalto. Os dois estavam há mais de uma, talvez até duas horas na sala com aquele ventiladorzinho girando.
Ele na janela, observando, sempre um lado ou outro, o céu depois de um tempo e as próprias mãos para não perder o hábito.
Ela sentada, revirando arquivos, comentando algo a cada minuto e rindo.
Os dois riam e viviam toda aquela extrema alegria de uma convivência comum de duas histórias desiguais. Ajudavam-se e matavam-se, como todos.
Foi ela, claro, que veio com a pergunta, fazia-a constantemente, porque o estado dele era esse que colocava-a em dúvida e hesitante, querendo saber, querendo ajudar e mesmo assim chegava ali no cantinho e dizia: o que foi?
Viu a mesa e ela. Ambas paradas como uma coisa só, mas ela brilhava estática e decidida, a mesa era só cenário. Não respondeu; daí respondeu muito baixo um "nada", aumentou um assunto sem querer, às vezes inventava algo quando não sabia o que mais fazer para colocar a resposta ali no lugar que deveria.
Ela desviou o olhar suspirando. Já tinha entendido o recado, e sabia quais desejos estavam na cabeça dura do rapaz na janela. Embora preocupada, o alívio chegou na hora certa, quando ele...
- Onde vamos almoçar?
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