- Preciso ver o céus mais vezes... - foi como começou sua frase após um breve suspiro. - e encontrar nele qualquer resposta mais clara do que essas que estão na minha cabeça.
Sentia-se profundamente estranho, mas não trazia no peito qualquer paixão ou amadurecimento, havia muito do cotidiano causando um enjoo natural de tudo aquilo que nos subtemos em excesso. Ele era o excesso de si mesmo.
- Vivo sob a sombra de um eclipse daquilo que julgo serem meus problemas, das coisas imutáveis pelo hábito, do cansaço extremo em tentar entender os outros a partir do que sou hoje, agora. Não sou nada se não uma máscara do que cheguei a desejar ser um dia. É um triunfo oco este das vontades racionais.
Tentava não sentir medo e coragem ao mesmo tempo, pois aí morava o perigo: a queda livre em tantas hesitações e hipóteses, do que estaria permitido, do que gostaria, do que fazia por vocação, mas não por querer. Onde estava o barato nas coisas que vivia?
- Sou só verdade para mim e não basta. Conheço muitos dentro de delícias inteiras e fantasiosas, eu mesmo sou uma mentira permissiva, uma realidade à sombra de afetos tempestuosos. Quero este direito outra vez, pois não sou livre, ninguém é livre, mas não posso continuar enjaulado na fábula alheia, amante resignado, templo de compreensão.
E mais uma vez, dividiu-se. Buscou o ar pela boca, e cercado pelo muro de seus votos, das suas infelizes promessas não prometidas, deixou-se levar pelos resmungos cotidianos, afastando o profundo, esquecendo do Sol, silenciando o instinto. E com trapos de esperança, sufocava baixinho um sonho ainda juvenil.
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