A Morte sentou-se ao meu lado precisando conversar e me disse:
- Meu caro, não temas. Há algo no universo que ainda me impede de te ceifar a alma do corpo e levá-la ao Juiz dos Tempos. Estou aqui por outros motivos.
E aguardei, calmamente, que a Morte me contasse suas intenções.
- São muitos aqueles que acreditam que estou muito próxima, quando estou muito longe. Te digo a verdade: estou em todas as coisas, boas e ruins, sou a porta da existência, o cadafalso do julgamento, o suspiro daquilo tudo que não é, mas que já foi. Mas - e aqui está o meu segredo - todos cruzam esse caminho tortuoso até o encontro com o outro lado, poucos reconhecem que por mais longo ou breve que este caminho seja, muitas portas até ele foram abertas, e sobre isso não tenho qualquer controle.
Muito pouco compreendi de tudo isso, e a Morte, percebendo meu desconforto, recomeçou sua fala de outra maneira.
- Existem certos pontos, momentos - se é mais fácil de compreender deste modo - neste intervalo que tu reconheces como vida em que expomos as nossas almas, e frágeis asas de borboleta que são, perdem parte do brilho, ou arranham-se e por vezes até mesmo racham. É aí que se atravessa para um grau mais elevado, porém mais duro e próximo da onde Eu estou. Ainda assim, afirmo que estarei longe e ninguém deve forçar-se ao encontro com a hora que deixei marcada para cada uma das coisas vivas, ou não serei Eu, mas Outro que fará o meu trabalho.
E num assombro, ela se foi.
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