desconcentrado, estava desconcentrado por estar concentrado demais, aéreo em pequenas multidões, como um leitor em praça pública, mas não havia livro, lia um corpo e movimentos, acompanhava os olhos castanhos em perfeita simetria com o suave desenho animado que era a boca, feita a dedo, num único borrão; mas o ritmo incômodo de todo o conjunto o deixava mais suscetível à admiração do estado em repouso - ainda que incessantemente vibrante - de todos esses traços.
e imaginou-se ali, fechado pela redoma de sombras como mero observador - quase ausente - notando com certa tristeza, o óbvio desconforto pela sua distância do objeto, tamanha ao ponto que só poderia descrevê-lo superficialmente: sua casca humana ainda fresca, frágil e mole; e poucas vezes o espírito afiado que tanto desejava ver mostrava-se além da conta; enclausurado na técnica, no esmero da sedução, na vontade - pura - de ser através de algo e não apenas ser.
cada vez mais tinha essa impressão que apenas olhos castanhos estavam a salvo de deixar transparecer a verdade pois eram comuns e naturalmente dissimulados, mas frente a frente, pares de mesma cor e profundidade, podiam muitas vezes sustentar-se num embate vigoroso de poucos segundos, mas que traziam ao espírito de seus donos o gosto um pouco aguado do empate.
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