sonhou com um deserto que era feito apenas de flores; o nada no sonho era uma coisa só e a ausência uma presença absoluta.
perdida, procurou-se em meio as flores; os pés, os braços, estava ali, cercada de um cenário que nada lhe dizia; solta, livre. perdeu-se mais ainda.
e por horas viu-se muito, muito desencontrada com aqueles caules verdes e o tom rosa claro em contraste com o céu muito azul; estaria doida? não lembrava de ter - quando acordada - tomado nada que não fosse a água meio quente da garrafa; e encontrando a garrafa de água meio quente dentro deste sonho, encontrou também um escorpião vivo sobre a tampa.
lhe faria mal o escorpião? e o que ele fazia sobre a tampa da garrafa de água meio quente e não no chão ou nas flores? ocorreu-lhe que o escorpião não é um inseto e subitamente sentiu-se jovem e violenta.
tomou para si a garrafa, e viu o escorpião correr sobre seu braço e encará-la de cauda erguida e pinças abertas;
não foi a dor do ferrão sobre a pele ou a água a escorrer pelo seu rosto que a despertou daquele local tão estranho, mas a nítida sensação de que alguém a observava muito além. um outro lacrau, talvez.
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