27 de dezembro de 2012

cocar

seria possível fugir de tantas vozes nas paredes em tom pastel do metrô? e deixar-se guiar de olhos vendados de ideias, dispersos, esbarrar em um brinco no chão, esquecê-lo e lembrá-lo horas mais tarde - não peguei o brinco, quem pegou o brinco? - e do brinco passar aos anéis e lembrá-los nos dedos e em cada dedo uma mão que tocou-lhe diferente; quem?

Olívia, o carnaval exige mais do que o calor e o grito alto do seu nome em meio à multidão, o encontro dos outros e das coisas no chão; Olívia veste seu avatar de índia, morena assustada, não busca ninguém, observa e atravessa sem sentir que sorri ao vê-lo; quem?

e este zumbido do mar, do tambor, dos chinelos arrastando fantasias, homens e mulheres, cães brancos, alguém berra e alguém repete, comemoram o desencontro e os reencontros; Olívia segue, finge que procura algo na bolsa, quer ter mais tempo para si, quer encontrar na bolsa o caminho por onde continuar seu raciocínio, tenta evitá-lo - o rapaz que segue ao seu lado - mas não pode, ele rouba seu cocar, dança; alguém grita: Olívia!

Olívia abriga-se na índia, mas sem o cocar está exposta, fragmentada e o vê claramente - o rapaz à sua frente-  antes de; quem?

Nenhum comentário: