22 de maio de 2014

Rosário II


Rosário, 

difícil dizer o que me corrói;  cerquei-me feito um louco de paredes confortáveis, e neste cubículo onde escondo minhas dúvidas disse hoje ao teto sobre as suas que também eram as minhas; e ainda estando tão lúcido, tão consciente - como se uma estrela brilhasse difusa em minha testa - há este último véu retirado que não me revelou nenhuma resposta sobre os sentimentos preciosos, encontrei no lugar ferramentas dispostas lado a lado: um binóculo e um espelho: Rosário, alguém em mim me diz que as pistas estão no futuro e no passado, e que à frente de mim e antes de mim permanece um eu de sobreaviso;


haverá futuro, Rosário, neste mar de observações feitas, nestas intensas descrições mentais dos afetos alheios, nesta prática diária de contemplação daquilo que chamo de amor? por vezes plástico, por vezes orgânico.


de um jeito ou de outro, não encontrei motivos hoje para o binóculo ou para o espelho.

D.

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