Pura estima, agarrou-o pelo coração e apertou até doer; era mais que um desejo do possuidor, mas com esse seria diferente. Analisou seus desejos corrompidos, suas mágoas, uma a uma, sentiu o que mais gostava: o instinto de vítima.
Cigarros, cinco no maço, três no cinzeiro, nove pela janela. O resto não participou do show particular. Não desistiria, riu algumas vezes, e antes mesmo de chamar a vingança, tinha elaborado o plano.
Constatou que o que não possuía, havia perdido. Então sempre que conseguia algo, sentia um alívio de resgate e não de conquista. Errado, porém menos pretensioso, já que o alívio era direto, e a conquista apenas puro orgulho. Isso não bastava.
Ela apoderou-se e viveu por ele. Tinha ainda muito o que fazer, mas seus braços davam conta do resto do mundo, com aquele precisava estar por baixo da pele.
- Conte-me um segredo. - não podia. Não devia. Disse mesmo assim.
- Vou me vingar de mim. - foi claro. Deixou-se acumular, dias embolados, pensamentos, espinhos; cravejaram cada delicadeza, calma e cada noite.
- Como? - não queria saber de fato, apenas reconhecer. Seu dever. Seus honorários. Basicamente isso.
- Veja bem, não se deve amaldiçoar o mundo aos berros por suas perdas e danos, compreenda - aí é que estava a sua realidade, a verdade saiu pela boca facilmente - a culpa é sua.
A vingança chorou lá dentro, retirou-se; nele estavam todas as estacas de segurança, cada broto firme ao Sol, nele estava sua pior inimiga: a coragem. Mas como podia a coragem ser inimiga da vingança? Simples. Vingar-se de si, não é vingar-se de fato, não do jeito que a vingança direciona. É a coragem que faz a diferença, ela só existe nesse tipo de vingança, nas outras, nas reais contra outrem, vive o antônimo, dança a covardia.
- Eis o progresso. - a analista sorriu, não pôde conter. Quando o serviço fazia efeito... sorria depois, mas com este era diferente.
- É, talvez. Pelo menos a ordem está melhor. - retribuiu.
E estava de fato; estava mesmo.
Um comentário:
Céito.
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