11 de fevereiro de 2008

Desordem

Além da vida irregular e explícita, existiam sentimentos. Não estavam, obviamente, naquelas noites perdidas sozinha, nem nos dias na rua; em horas exclusivas para o mundo. Levantava e vivia, basicamente.
Mas através dos cachos redondos, cravara-se um momento, um específico; a época em si, esta em que todos falam demais, onde não se aprecia a arte pelo prazer da análise, mas só, e somente só, para o agrado da sociedade entorno, para fazer parte da moral e dos bons costumes; hoje é até permitido colocar um pé além do limite e soltar um riso infantil, antes não. Não, não era isso, existia além do meio, além da incansável rotina, que parecia estar esmurrando-a, não esmurrando-a, mas como viver com alguém que lhe retira os anos aos pouquinhos, como se bebe uma taça grande de vinho, sim, exatamente, era o sabor da vida, amargara em algum momento; naquele momento.

Ela sabia. Compartilhava de uma forma restrita, indócil, achava tudo uma grande merda, para minutos depois despejar paixão na última dança; irresistível. Sonhava apenas com a chuva e com o fogo; o leve e o intenso, juntos, para compor uma única dose, que ainda não experimentara, onde poderia encontrar a combinação tão bem retratada por sonhadores; desejada e suada por insônes amantes; 'por favor', diria, 'é preciso estar quente, porém fresco'; uma comparação estúpida com comida, mas a vida não era isso? Depois de tudo? Comer e beber, e transar?

Não. Para ela a vida era uma representação crua do amor, do ego e do ódio. Só os três poderiam parir tal desordem que é o ser humano.

2 comentários:

moa disse...

é feito espelho.

Artur Quintanilha disse...

enlouqueci,

com tanta perfeição.