Doces são as ervas no campo; o Sol pleno na terra quente, pois não há temor nos novos dias;
ou há cor ou não há;
Que importa se nem sempre se sabe do futuro e não existe mais o passado? Eis em qualquer canto o presente.
Num embalo, num revolto se vai o que não presta, permanecem as rochas e modificam-se o seixos.
Deixe viver o broto, dê chance ao novo.
Todo desejo é necessário e insólito.
escrito em 17 de Janeiro de 2008.
31 de julho de 2008
16 de julho de 2008
No espreguiçar da tarde
Todas as tardes de Sol sob as sombras caseiras; viva e viçosa, era parte do ambiente, suava aos poucos e em delicadas gotas enquanto respirava, devorava os livros e os sons, mas que dias! Julgava-se superior e bela só por não estar sob olhos, causava estranheza o excesso das ruas, mas ali largada e sendo ela mesma sem qualquer casca-fantasia, com a mente completa, aberta e nua diante das próprias reflexões.
Um frio subiu-lhe a espinha, apaixonara-se muitas vezes, e pensava nesses casos e platonices, como adorava relembrar dos sabores, das bocas macias e coladas, tais múltiplas memórias lhe queimavam a testa, eram desejos e rostos; segredos pessoais.
Espreguiçou e agarrou-se no próprio abraço, e vinham chamas de longe, agora fazia comparações e hipóteses, como deixara uns e outros de lado, o sofrimento alheio, o seu. Seguiu além, para antes, dias de tédio, o vazio sem paixões, aquela sua vida marcada de alguma maneira esquecida, resumia-se aos delírios solitários, quando o narcisismo era seu único grande amor. Mas não era? Hoje ainda, não estava divagando exatamente naquele momento, a vadiar solitária em busca de uma história já codificada e engavetada, salvando apenas os apogeus dos anos ou meses?
Calou a voz da consciência. Conhecia bem onde este rumo de idéias a levaria, a um cadafalso plantado em meio às imagens belas que recordava, o outro lado do espelho das pessoas que conhecera, naufragaria numa tormenta embaralhada; sua natureza, um sistema de segurança, o alto nível de cores e satisfações egocêntricas, ou até mesmo o calor dos sentimentos, eram a senha para o início das desilusões.
Logo todas as leves enaltações eram ceifadas pela crua e cruel verdade. Diminuiria-se ali em meio ao foguento do jardim, o Sol desceria, calariam-se os pássaros, perceberia que tudo se rejuvenescia eternamente à sua volta, menos ela, estava condenada a viver em sacrifício para que tudo existisse depois dela, e depois de depois dela.
Segura, reabriu o livro e sorriu ao ler um pouco adiante as seguintes palavras: "Amava o acaso, pois ele é quem sempre bate à porta com uma novidade, uma vontade instantânea, um gentil gesto ou surpresa lotada de todo o sorriso para os próximos momentos de uma vida qualquer..."
6 de julho de 2008
A Mariposa
Não havia nada para ser visto pela janela, não havia interesse por qualquer livro ainda não lido, canais de tv repletos com as mesmas imagens ou sono para os sonhos. Ainda queria sonhar naquela noite? Há tempos não sonhava com fantasias de conforto, a causa provável era o repouso forçado de forma constante; os pensamentos viam todos no fim do dia quando a visão do teto perturbava algo além, algo profundamente inquieto e sibilante, aquele chiado mental por detrás de revisões, mágoas ou sorrisos; caía enfim num sonho preto igual carvão.
Os dias sempre vinham em movimentos, levantar e perceber, geralmente o raciocínio dói nesta hora. Entretanto, a janela permaneceu aberta, e apesar de não se remoer por esquecer de fechá-la, o remorso apareceu de qualquer forma, pois logo aonde estava a vela acesa na noite anterior - no chão, esqueceu-se dela também - jazia uma pequena mariposa.
Por mais estranho que fosse, concluiu que a mariposa atirou-se no fogo por um desejo intenso e banal, morrera, mas... conseguiu o que queria? Percebera o engano em muitas coisas e de repente, viu como às vezes era como a mariposa, voando de encontro à chama, tendo em mente apenas um único pensamento: desejar e sentir as coisas, para então vivenciá-las, nem que fosse uma única vez.
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