11 de abril de 2011

Áries

Deixou-se cegar pelo Sol daquela manhã apenas por alguns minutos, e de olhos fechados flutuou livre por inúmeros pensamentos. E com a mesma rapidez de todas as imagens que passavam pela sua cabeça, sentiu-se apreensivo, feliz, seguro, talvez um pouco moroso, para no fim não sentir absolutamente nada.

Que batalhas! - pensou, não entendo a princípio da onde vinham essas palavras. Seguiu o rumo ao cotidiano ainda muito apegado ao friso no meio da testa. É que acontecia muita coisa com muita gente agora. Tudo estava muito exagerado, caíam mundos e erguiam-se outros.

Havia um duelo de forças incompreensíveis sendo travado por detrás das experiências humanas. Sabia disso, percebia com muita clareza a dureza do céu naquela manhã, azul-rígido.

E de um súbito perdeu o próprio tempo, largou-se em meio a tantos outros, engolidos pela massa das coisas acontecidas, esqueceu o que pensava e apenas vivia; de um modo estranho percebeu positivamente como tantas vontades, tantos desejos, tantas inocências e também maldades, chegavam ao fim.

5 de abril de 2011

Conversa de uma voz sob a figueira

- Preciso ver o céus mais vezes... - foi como começou sua frase após um breve suspiro. - e encontrar nele qualquer resposta mais clara do que essas que estão na minha cabeça.
Sentia-se profundamente estranho, mas não trazia no peito qualquer paixão ou amadurecimento, havia muito do cotidiano causando um enjoo natural de tudo aquilo que nos subtemos em excesso. Ele era o excesso de si mesmo.

- Vivo sob a sombra de um eclipse daquilo que julgo serem meus problemas, das coisas imutáveis pelo hábito, do cansaço extremo em tentar entender os outros a partir do que sou hoje, agora. Não sou nada se não uma máscara do que cheguei a desejar ser um dia. É um triunfo oco este das vontades racionais.

Tentava não sentir medo e coragem ao mesmo tempo, pois aí morava o perigo: a queda livre em tantas hesitações e hipóteses, do que estaria permitido, do que gostaria, do que fazia por vocação, mas não por querer. Onde estava o barato nas coisas que vivia?

- Sou só verdade para mim e não basta. Conheço muitos dentro de delícias inteiras e fantasiosas, eu mesmo sou uma mentira permissiva, uma realidade à sombra de afetos tempestuosos. Quero este direito outra vez, pois não sou livre, ninguém é livre, mas não posso continuar enjaulado na fábula alheia, amante resignado, templo de compreensão.

E mais uma vez, dividiu-se. Buscou o ar pela boca, e cercado pelo muro de seus votos, das suas infelizes promessas não prometidas, deixou-se levar pelos resmungos cotidianos, afastando o profundo, esquecendo do Sol, silenciando o instinto. E com trapos de esperança, sufocava baixinho um sonho ainda juvenil.