10 de maio de 2011

poente

Havia no poente qualquer coisa que lhe indicava a sabedoria dos detalhes. E percebia, com certa surpresa, a chuva que chegara há pouco sem vento, sem vontade, naquelas horas onde - não saberia como explicar - ninguém estava.

Vago entre o laranja e o cinza daquela tarde estava o espaço que não ousavam tocar. Como um canto que temos no quarto; uma fantasia que poderia ser objeto, um sofá, uma mesa, uma possibilidade inteira e impossível, um desejo sem querer.

E profundamente desperto, atento aos veios de terra já encharcados, às flores caídas e ao silêncio dos pássaros, viu o gato passando rasteiro e medroso, mas nada o preocupava ou o satisfazia como a chuva que chegara há pouco.

Soltou os cadernos sobre as poças. As palavras que queria dizer se foram, e ele não lembrava como eram, nem sobre o que falavam. Estava ficando tarde, e aquela saudade outra vez adormeceu de lábios semiabertos, sincera em seu cansaço. E em respeito à ela, permaneceu em silêncio.

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