Pela manhã era possível ver algumas poucas e amarelas borboletas sobre os arbustos, vidradas em flores e na água sobre o cimento; e em pouco tempo muitas outras juntaram-se às primeiras, alheias à vida que não era delas, pequenas inocentes tão leves quanto uma alma.
Mas houve vento, e o dia virou. Ninguém as viu, ninguém sabe este pequeno segredo, nem mesmo a chuva rala - que desceu buscando atenção - as encontrou sob as folhas ou telhados.
E neste imenso silêncio chuvoso que tomou o jardim, transitaram enormes sentimentos, muitos desconhecidos, vários abraçados uns aos outros ou apenas andando de mãos dadas; uns iam amparados, outros livres, e todo este momento não durou mais que alguns segundos até que, outra vez, tudo aguardasse um novo ato (e a chuva esperou) que viesse sem sobreaviso, sem alerta ou dica.
O céu girou numa ciranda macabra, e lá estavam, no dia seguinte, outras amarelas borboletas naquele jardim que também não era o mesmo.
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