- como você quer que eu fique... - e respirou ao tentar recolher as palavras, todas afoitas, crianças chorosas em busca de um silêncio, um conforto - com todos olhando e fazendo a mesma pergunta que eu me faço neste momento: o que eu estou fazendo aqui e quem sou eu?
Olavo não sabia. Desejava apenas que nada estivesse errado em sua tentativa, na verdade nem sabia se levar Estela até lá tinha sido uma tentativa ou uma provocação; um propósito para que as coisas escorregassem um pouco mais pro ralo de saída da boa consciência. Olavo gostava do sabor da isenção, das somas que davam zero; Olavo apreciava sardas leves.
- o que você quer afinal? não é suficiente? nunca é suficiente. nunca vai ser suficiente. você deveria ir embora.
era um alvo, uma receptora perfeita de dentadas do ego alheio insatisfeito; sentia-se amarga, frouxa, deslizava para dentro de si num tempo próprio, único e estático; Estela comportava-se como um buraco negro, tropeçando nas próprias ideias e engolindo toda e qualquer mágoa; queria ir, queria deixá-lo ali naquela cena montada onde os dois almejavam internamente serem apenas espectadores dos próprios desejos e não protagonistas errantes; com frequência Estela ultrapassava o tempo gasto para se pensar num momento como aquele: distante de todos os outros discutia com Olavo a situação que tinham se incluído, num comportamento bizarro a olhos vistos, e arranhavam-se, rangiam os dentes em desgosto, mas de cima de seus tamboretes, inabaláveis; Estela tinha sardas leves.
- vamos embora, Estela? desculpa, vamos embora? deixa eu dizer tchau aos outros e vamos?
Olavo retirava-se.
Estela cedia.