Não há cartas, telefonemas, pensamentos expressos ou sensações; via e a desilusão ainda não era compreendida. Não era muito inteligente, mas havia sacrifícios internos em prol de uma melhor imagem, de um comportamento mais controlado; uma dedicação cansativa, uma chama que se extinguia aos poucos, esvaindo-se contra a vontade. Certas vezes a consciência toma as armas da sua mão deixando o corpo vazio, apenas vivo por um piloto automático, e as falhas são consertadas por procedimentos-padrão; e a luz retorna, acende devagar, e os olhos não reconhecem as paredes internas, não percebem que os níveis estão estabilizados, que os números somaram-se, que as pernas aguardam ordens.
Levante-se. Receba as carícias da manhã negligente, foi-se a vida ontem e hoje não há nada mais que uma única chance de aprendizado; desculpar-se é uma motivação robótica, é uma obrigação, não para conforto mental, mas sim para amarrar a boca do saco de larvas e sentimentos.
Eis o vento e com ele o soar de um telefone, uma nova mensagem.
- Menino o mundo não mudou tanto, foi você que cresceu.
Apenas o Sol justifica tudo isso, aquele sorriso repuxado de lembranças.