essa enorme distância entre as horas, essas inúteis anotações; o frio asséptico de cabines: um toque no vidro e lá estava ela; morna, desajeitada, a visão completa da fé embaçada que o Olavo possuía no afeto humano, uma certeza turva, pesada; uma âncora negra que o fazia submergir onde não queria.
não procurava as respostas, não se permitia; jogava com as mentiras um passatempo qualquer, riscando palavras nos livros, inventando rachaduras na rotina - colecionava desavenças baratas - e esquivava-se como um cão de rua raivoso da possibilidade de soletrar mentalmente qualquer coisa que fosse uma pétrea verdade sobre aquele assunto; sobre eles.
você, Estela; eu, Estela.
nós, Olavo; suspirou enquanto observava o céu - um bloco de mármore imundo - criando uma rápida nuvem de vapor; voltou os olhos ao nível da rua, quieta e alongada, um cenário à espera.
seu corpo agiu de forma estúpida, indo de encontro ao chão, à sujeira e, mesmo sem dor, Estela rompeu sensível sobre o asfalto, chorando.
quis vê-la, encontrá-la, por alguns minutos olhou pela janela com este sentimento, mas não havia nada, nem nuvens, nem estrelas, era noite apenas; algum lugar sobre o mar.
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